quarta-feira, 30 de julho de 2014

Da odisseia para os replicantes: o cinema americano da década de 70




Estados Unidos, década de 70: Elvis Preslely, Led Zeppelin, recessão, caso Watergate, lançamento de missões Apollo, envolvimento na guerra do Vietnã, guerra fria, e filmes. Muitos filmes! Excelentes filmes!
Não é nenhum exagero: basta visitar qualquer locadora que se preste ou um pequeno bar de bairro que você poderá encontrar referências a filmes como "Taxi Driver", "O poderoso chefão", "Sem Destino" "Apocalypse Now" ou "Laranja mecânica".
Para um efeito didático, e conveniente aos autores desse texto, demarcaremos esse período começando com Stanley Kubrick e terminado com Ridley Scott. Em outras palavras, comecemos com "2001 - uma odisseia no espaço" (1968) e terminamos com "Blade Runner" (1982). E essa escolha nem é tão arbitrária: parece delimitar uma explosão de criatividade que já vinha nascendo no final da década de 60, e continuou até o início da década de 80. Hollywood, nesse intervalo, viveu um momento ímpar em sua história.
Clint Eastwood em "Dirty Harry"
Reclama-se muito, hoje em dia, dos "enlatados" americanos -- mas, devemos confessar, algo que vimos daquela época foi qualquer coisa menos preparados de fácil digestão. O equilíbrio entre qualidade autoral e entretenimento parecia regra, e, melhor, sem ofender a inteligência do espectador. Nada nem perto do que vemos de cineastas atuais como Michael Bay, Roland Emmerich e Paul W.S. Anderson (não confundir com o genial Paul Thomas Anderson) -- que, apesar de toda tecnologia disponível, parecem eternos adolescentes que adoram brincar com tramas repetitivas de destruir o mundo.
Não pretendemos esgotar o assunto aqui. De qualquer forma, basta checar a recente lista feitapelos próprios hollywoodianos (chefes de estúdios e vencedores de Oscar) e somos capazes de identificar que quase 20% da lista contém filmes da década de 70. Embora a lista seja bem discutível (principalmente a ordem dos filmes), dificilmente uma outra lista feita por qualquer outro cinéfilo deixaria de incluir obras desse período.
Gene Hackman em "A conversação"
Ao relembrarmos os filmes, estaremos também recordando alguns nomes de atores e atrizes que tiveram sucesso de alto nível em suas carreiras: Burt Reynold ("Amargo pesadelo"), Clint Eastwood (que aliás foi uma das suas épocas mais profícuas, tanto como cineasta como ator, em filmes do calibre "Dirty Harry" e "O Último Golpe"), Robert De Niro ("Taxi Driver", "O franco atirador", "Touro Indomável", "Poderoso Chefão: Parte II", "Caminhos perigosos"), Diane Keaton ("Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", "Manhattan"), Ellen Burstyn ("Alice não mora mais aqui", "O Exorcista", "A Última Sessão de Cinema"), Meryl Streep ("O franco atirador", "Kramer vs. Kramer", "A escolha de sofia"), Jéssica Lang ("Tootsie"),  Al Pacino ("Serpico", "Um dia de cão", "O poderoso chefão", "Parceiros da Noite"), Jack Nicholson ("Sem Destino", "Chinatown", "Um estranho no ninho", "O iluminado"), Dustin Hoffman ("Sob o Domínio do Medo", "Tootsie", "Kraver vs. Kramer", "Papillon"), Gene Hackman ("Operação França", "A conversação"), Marlon Brando ("Poderosos chefão", "Apocalypse Now"), Robert Duvall ("M.A.S.H.", "O poderoso chefão", "A conversação", "Rede de intrigas", "Apocalyse Now", "THX 1138").
Robert De Niro em "O franco atirador"
E os cineastas: Francis Ford Coppola ("O poderoso chefão", "A conversação", "Apocalypse Now"), Ridley Scoot ("Os duelistas", "Alien", "Bale Runner"), Stanley Kubrick ("2001 uma odisseia no espaço", "Laranja mecânica", "Barry Lyndon", "O iluminado"), Martin Scorsese ("Caminhos perigosos", "Alice não mora mais aqui", "Taxi Driver", "Touro indomável"), Alfred Hitchcock ("Topázio", "Frenezi"), Sam Peckinpah ("Os implacáveis", "Cruz de ferro", "Meu Ódio Será Tua Herança", "Sob o Domínio do Medo"), William Friedkin ("Operação França", "O exorcista", "Parceiros da noite"), Steven Spielberg ("Encurralado", "Tubarão", "Contatos imediatos de terceiro grau"), Brian De Palma ("Irmãs diabólicas", "O fantasma do paraíso", "Trágica obsessão", "Carrie - a estranha", "A fúria", "Vestida para matar"), Woody Allen ("Bananas", "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", "Manhattan"), George Lucas ("THX 1138", "loucurase verãos", "Guerra nas estrelas"), Terrence Mallick ("Badlands", "Dias do paraíso"), Sidney Lumet ("Serpico", "Um dia de cão", "Rede de intrigas").
Sissy Spacek em "Carrie - a estranha"
E ainda inúmeras outras obras, como: "Rocky", "Nashville", "Patton", "Eraserhead", "O enigma do outro mundo", "Halloween", "Horror em Amityville", "Apertem Os Cintos, O Piloto Sumiu", “O expresso da meia noite”, "Mad Max", "Star Trek", "Soylet Green", "O massacre da serra elétrica".
De modo geral, os filmes dessa época brilhante parecem compartilhar alguns elementos em comum: o pessimismo, o apelo a obras com caráter intelectual, o fim da inocência de épocas anteriores e personagens com traços psicológicos marcantes. Tanta urgência em fazer filmes tão bons não parece mais existir: o cinema americano como daquela época parece anacrônico. Não é por acaso, portanto, que a lembrança de bom cinema normalmente remete a algum filme dessa época. Dois fatos evidenciam isso: as continuações e as refilmagens. Apenas como ilustração, segue uma pequena lista de filmes que ganharam continuações: "Alien", pelo menos as cinco continuações de "Guerra nas estrelas", "Rocky", "Star Trek", "Operação França", "Tubarão", "Poderoso chefão", "O exorcista, "Apertem os cintos, o piloto sumiu", "Mad Max", "O massacre da serra elétrica". Mais ainda, vejamos os exemplos de refilmagens: "Carrie, a estranha" (2013), Sob o domínio do medo (2011), "O enigma do outro mundo" (ou "A coisa", 2011), "Halloween" (2007), "Horror em Amityville" (2009), "Mad Max" (2015) e o "massacre da serra elétrica" (2003).
É um viés de caráter psicológico que alguns espectadores têm em desmerecer filmes de décadas passadas -- como se apenas o novo (a eventual refilmagem) fosse digno de valor. Os filmes da década de 70 deixam claro o aviso convidativo de conhecer os representantes dessa época. Transgressores, polêmicos, ou apenas entretenimento de boa qualidade, os filmes desse período continuam vivos na memória. O conselho do crítico Roger Ebert não poderia ser mais entusiástico: não existe essa coisa de filme antigo, o que existe são filmes que você ainda não viu. 

Autoria: Cesar Pinheiro e Cicero Escobar

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