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domingo, 11 de outubro de 2015

Uso de maconha por adolescente: Recente estudo sugere que o consumo não está ligado a depressão, câncer e nem sintomas psicóticos

Uso de maconha por adolescente: Recente estudo sugere que o consumo não está ligado a depressão, câncer e nem sintomas psicóticos
 [Originalmente postado no blog Bule Voador]
O uso crônico de maconha por adolescentes não parece estar ligado a questões posteriores de saúde física ou mental, como depressão, sintomas psicóticos ou asma. Esta foi a conclusão de um recente estudo publicado pela American Psychological Association.
Pesquisadores da Universidade de Pittsburgh Medical Center e da Universidade Rutgers acompanharam 408 homens a partir da adolescência até seus 30 e poucos anos.
“O que descobrimos foi um pouco surpreendente”, disse o pesquisador Jordan Bechtold, pesquisador de psicologia da Universidade de Pittsburgh Medical Center. “Não houveram diferenças nos resultados de saúde mental ou física que nós medidos, independentemente da quantidade ou frequência de maconha usada durante a adolescência.”
O uso de maconha foi submetido a um intenso escrutínio depois de vários estados nos EUA legalizarem a droga, o que levou os pesquisadores a examinarem se o uso de maconha entre adolescentes têm consequências para a saúde a longo prazo. Com base em alguns estudos anteriores, eles esperavam encontrar uma ligação entre o uso de maconha entre adolescentes e o posterior desenvolvimento de sintomas psicóticos (delírios, alucinações, etc.), câncer, asma ou problemas respiratórios, mas nenhuma foi encontrada. O estudo também não encontrou nenhuma ligação entre o uso de maconha entre adolescentes e depressão, ansiedade, alergias, dores de cabeça ou pressão arterial elevada. Este estudo é um dos poucos sobre os efeitos da saúde a longo prazo do uso de maconha entre adolescentes que têm monitorado centenas de participantes de mais de duas décadas de suas vidas, disse Bechtold.
A pesquisa foi um desdobramento do Estudo da Juventude de Pittsburgh, que começou a acompanhar desde os 14 anos de idade estudantes do sexo masculino de escolas públicas e Pittsburgh no final de 1980 para analisar várias questões de saúde e sociais. Durante 12 anos, os participantes foram examinados anualmente ou semestralmente, e uma pesquisa seguinte foi realizada com 408 participantes em 2009-10 quando eles tinham 36 anos de idade. A amostra do estudo foi de 54% de negros, 42% de branco e 4% de outras raças ou etnias. Não houve diferenças nos resultados com base em raça ou etnia.
Os participantes foram divididos em quatro grupos com base no seu uso de maconha relatada: baixo ou não-usuários (46%); usuários crônicos (22%); participantes que só fumaram maconha durante a adolescência (11%); e aqueles que começaram a usar maconha mais tarde, em seus anos de adolescência e continuara usando a droga (21%). Usuários crônicos relataram um consumo muito maior de maconha, o que aumentou rapidamente durante a adolescência para um pico de mais de 200 dias por ano, em média, quando eram 22 anos de idade. Entretanto, o consumo relatado diminuía à medida que envelheceram.
Os pesquisadores controlaram outros fatores que podem ter influencia nos resultados, incluindo tabagismo, uso de outras drogas ilícitas, e acesso dos participantes ao seguro de saúde. Uma vez que o estudo incluiu apenas homens, não houve resultados ou conclusões sobre as mulheres. Relativamente poucos participantes tinham sintomas psicóticos, de acordo com o estudo.
“Queríamos ajudar a informar o debate sobre a legalização da maconha, mas é uma questão muito complicada e um estudo não deve ser tomada de forma isolada”, disse Bechtold.
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Tradução: Cicero Escobar

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Maconha incomoda muita gente. Sua descriminalização incomoda muito mais.


                                    Também publicado no blog da Liga Humanista do Brasil (LiHS) - Bule Voador

Artistic Marijuana Leaf By Imahb Dsme
O cheiro da maconha pode incomodar muita gente. Mas odor desagradável não é um bom argumento para proibir consumo. Para entender isso é necessário apenas o simples paralelo: Proibiremos o consumo de cigarro porque seu cheiro também incomoda. Em locais públicos, a melhor maneira de compatibilizar os fumantes e não fumantes é justamente criar locais específicos para o consumo. O consumidor também pode ser educado, como boa parte dos consumidores de cigarro são, ao fazerem a pergunta “você se importa que eu fume aqui?”
Não é cabível continuar com a criminalização. É possível defender isso de duas maneiras complementares, uma científica e outra moral.
A política antidrogas atual no Brasil não é apoiada em evidências: À luz dos melhores resultados empíricos que dispomos, a maconha causa menos danos físicos e sociais que outras drogas facilmente disponíveis (álcool e cigarro). Disso não segue, obviamente, que a maconha seja isenta de efeitos colaterais. Entretanto, são mais sutis e menos agressivas a tal ponto que os benefícios do uso (medicinal) pode superar as eventuais contraindicações. Uma delas é que com a liberação comercial deve vir junto o uso médico.
A relação com o argumento moral é a seguinte: Não parece aceitável criminalizar uma droga que não apenas apresenta potencial de uso médico, mas que já existem terapias relativamente confiáveis em que seu uso pode ser aplicado — como servir de aliada a tratamentos de alguns tipos de câncer. Alternativamente, outra defesa moral é possível, e que pode ser defendida a despeito do uso medicinal: É limitar a liberdade dos outros que a usem como consumo recreativo; alguém não gostar de algo não deve implicar proibição geral. Além disso, parece ser apenas uma falsa preocupação o desejo de proibir em nome da saúde. Preocupação real seria muito mais efetiva se, antes de ditar o que o outro pode ou não consumir, o sujeito cuidasse da sua própria saúde, e parasse de fumar e/ou beber álcool. O que não deixa de ser curioso: Muitos dos adeptos da proibição da maconha consomem ambas as drogas, ao mesmo tempo.
Uma possível objeção comum é dizer que há outras preocupações imediatas do que a descriminalização da maconha, mesmo reconhecendo-se seus efeitos comparativamente menos nocivos. Essa ideia, porém, é uma típica falácia da prioridade. Investir um pouco de atenção em uma coisa não impede que outras sejam atendidas concomitantemente.
E por que não seria prioridade? Atualmente, no Brasil, o indivíduo flagrado é tido como criminoso. A lei atual é incapaz de distinguir claramente quem é consumidor de quem é traficante. E qual a evidência disso? O inchaço no sistema prisional: Além de possuir a terceira maior população carcerária no mundo (só perdendo para a China e Estados Unidos), estima-se no país uma população carcerária por tráfico de entorpecentes (tipificação de crime não violento) superior a 130 mil pessoas (cerca de 1/4 do total de presos). Para ter uma ideia da extensão desse número, basta somar os outros dois crimes numericamente expressivos (roubo qualificado e o roubo simples) e obteremos um valor que não chega a 90 mil presos. Além disso, é bem reconhecido o problema geral nas prisões do país: presos em locais inadequados, superlotação e pessoas vulneráveis à maus tratos e desrespeito aos direitos humanos. Em visto disso, ajudar a desafogar o sistema prisional (que muita gente que reclama não dá boas alternativas) parece uma prioridade. Sem contar a truculência policial que não sabe lidar com quem é consumidor, sobretudo os mais pobres.
                Aquele que se preocupa com prioridades não deixa de acentuar – com razão –, possíveis dificuldades de aplicações, como tempo e custo. Acontece que do ponto de vista operacional é muito fácil executar. Basta uma lei entrar em vigor e alguns poucos ajustes de recursos materiais. Aliás, já existe proposta (PL 7270) que não visa “liberar” (de fato, o uso da maconha já é recorrente), mas sim regular o uso. Isso significa que o projeto prevê uma quantidade máxima permitida ao usuário recreativo, e também pretende fazer com que os municípios possam arrecadar dinheiro com as vendas (parecido como o que Uruguai fez e semelhante ao projeto já proposto na Argentina).
                Argumentos científicos e morais podem ser defendidos também por uma análise história. E duas são as razões disso: O fracasso da chamada “guerra às drogas” e da Lei seca nos Estados Unidos. Tomando em conjunto, ambas fornecem evidências de que o proibicionismo aumenta a violência e traz danos socioeconômicos que poderiam ser minimizados caso a maconha fosse descriminalizada.
                É fácil manter uma postura proibicionista vastamente apoiada por vários veículos de comunicação. Difícil, entretanto, é alinhar estas posições diante das evidências históricas e da realidade do país. Os argumentos mais comuns do proibicionismo são mantidas por preconceito popular, sendo incapazes de resistirem ao escrutínio de informações científicas que revelam a urgência de se pensar em uma nova política sobre o uso de drogas.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A maconha é realmente tão ruim?

[Texto publicado no blog da Liga Humanista Secular do Brasil - Bule Voador]

A Marijuana é uma droga polêmica. É demonizada por alguns como porta de entrada a outras drogas, e, por outro lado, também é celebrizada por sua promessa em aplicações médicas. Enquanto o júri não se decide por nenhum dos lados da moeda, uma coisa é certa: o uso dessa droga está em ascensão. De acordo com o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, o número de pessoas que, nesse país, admitem ter experimentado maconha no último mês subiu de 14,4 milhões em 2007 para mais de 18 milhões em 2011.
Esse aumento pode ser devido, em parte, à falta de evidências fortes que suportem os riscos  que se suspeita serem causados pela Cannabis.  De fato, de maneira similar ao fumo do tabaco, embora a fumaça da marijuana contenha substâncias cancerígenas e alcatrão, inexistem dados conclusivos que possam ligar a maconha a danos nos pulmões. Um recente estudo de longo prazo, que, aparentemente, parecia ligar conclusivamente o uso crônico da maconha na adolescência com o baixo Q.I. de consumidores neozelandenses, foi rapidamente contestado por uma contra-análise que apontava razões de status socioeconômicos como um fator de  confusão. De acordo com o levantamento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, o uso da Cannabis entre os adolescentes têm aumentado na proporção em que os baixos riscos da marijuana têm sido percebidos; e os pesquisadores – e sem dúvida os pais também -, estão ansiosos para que se chegue mais ao fundo a questão.

Respire Fundo

Em 2012, um estudo realizado na Universidade da California, San Franciso (UCSF) calculou que fumando apenas um baseado a cada dia por 20 anos a maconha pode ser benigna, embora a maioria dos participantes fumasse dois ou três e baseados por mês. O epidemiologista Mark Pletcher, quem liderou o estudo, alegou: “Eu fiquei surpreso que não vimos efeitos (do uso da maconha)”.
Uma avaliação de vários estudos epidemiológicos aponta para um tamanho de amostra pequeno e estudos pobremente projetados como as razões para os cientistas serem incapazes de se comprometerem com a alegação da ligação entre a Cannabis e o risco de câncer. Por exemplo, um estudo de 2008 sugeriu que fumar marijuana poderia reduzir o risco associado ao câncer de pulmão derivado do tabaco, demonstrando que consumidores tanto da marijuana quanto tabaco têm um risco menor de câncer do que aqueles que fumam somente tabaco (embora o risco seja maior do que para os não fumantes). Entretanto, Pletcher não é otimista sobre os efeitos da maconha sobre os pulmões, e desconfia que ainda possa haver danos ao pulmão por efeitos de longo prazo que podem ser difíceis de detectar. “Nós realmente não podemos tranquilizar-nos acera do uso intenso”, explicou o cientista.


Seu cérebro sob efeito de drogas

Existem algumas evidências sugerindo que pessoas intoxicadas assumem mais rscos e apresentam comprometimento na tomada de decisão, bem como resultados piores em tarefas dependente da memória - e deficiências residuais (após consumo) têm sido detectadas dias ou mesmo após semanas após o uso. Alguns estudos também relacionam o consumo regular da marijuana com déficits de memória, aprendizado e concentração. Um recente estudo amplamente discutido sobre o Q.I. de neozelandenses  acompanhou consumidores da Canabbis, desde o nascimento,  e mostrou que os usuários consumidores a partir da adolescência tiveram valores mais baixos de Q.I. que os não usuários. Nesse estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade de Duke, “você pode ver claramente que como consequência do uso da maconha, o Q.I. diminui”, disse Dekir Hermann, um neurologista clínico do Instituto Central de Saúde Mental na Alemanha, e que não esteve envolvido diretamente na pesquisa.
Entretanto, não menos que 4 meses depois, uma re-análise e simulação computacional  realizada  pelo Centro Ragnar Fisch de Pesquisa Enocômica em Oslo contrariou os dados  divulgados pela Universidade de Duke. Ole Rosberg sustentou que fatores socioeconômicos - e não o uso da marijuana -, contribuíram para os baixos Q.I. observados em usuários da maconha.
No entanto, a conclusão de Rogerberg pode ser contrariada por uma literatura considerável que suporta a ligação entre o uso da maconha e o declínio neurofisiológico. Estudos em seres humanos e animais sugerem que indivíduos que adquirem o hábito de consumir marijuana na adolescência enfrentam impactos negativos no funcionamento do cérebro, e alguns usuários encontram dificuldades para se concentrar e aprender novas tarefas.
Embora a maioria dos estudos sobre esse assunto sugere haver consequências negativas do consumo enquanto adolescente, os usuários consumidores a partir da idade adulta geralmente não são afetados. Segundo explica Hermann, isso pode ser devido a uma reorganização dirigida pels endocanabinóides presentes no cérebro durante a puberdade. A ingestão de canabinóides que se adquire com o uso da maconha pode causar um “um deturpamento do crescimento neural irreversível” disse ele.
Além das consequências na inteligência, muitos estudos sugerem que fumar marijuana aumenta o risco de esquizofrenia, e pode ter efeitos similares no encéfalo. O grupo de Hermann usou a técnica de imageamento por ressonância magnética para detectar danos associados ao consumo da cannabis na região pré-frontal do encéfalo e encontraram modificações similares àquelas vistas em pacientes com esquizofrenia. Outros estudos sugerem ainda que os esquizofrênicos consumidores da erva têm maiores mudanças no encéfalo associadas à doenças e um desempenho pior em testes cognitivos do que aqueles não fumantes.

Porém muito dessa pesquisa não é capaz de distinguir entre mudanças no encéfalo causadas pelo uso da marijuana e sintomas associados com a doença. É possível que os esquizofrênicos consumidores da maconha “possam apresentar sintomas desagradáveis (que precedem o quadro clínico da doença) e estejam automedicando-se” ao fazerem uso do efeito psicotrópico da droga, disse Roland Lamarine, professor de saúde comunitária da California State University. Ainda segundo ele, “nós não vimos uma elevação no número de esquizofrênicos, mesmo com o aumento de usuários da maconha”.
Outras pesquisas sugerem que o consumo da Cannabis entre os esquizofrênicos fez com que eles obtivessem melhores pontuações em testes cognitivos do que os esquizofrênicos não consumidores da droga. Esses relatos conflitantes podem ter ocorrido em virtude de diferentes concentrações – e diferentes efeitos -, dos canabinóides presentes na maconha. Além do tetrahidrocanabinol (THC), um canabinóide neurotóxico responsável pelas propriedades de alteração de estados mentais, a maconha também apresenta uma variedade de outros canabinóides não psicoativos, incluindo o canabidiol (CBD), o qual pode proteger contra a lesão neuronal. Hermann descobriu que o volume do hipocampo - a região do encéfalo importante para o processamento de memória - é um pouco menor em usuários de maconha do que em não usuários, porém o consumo da maconha com maior quantia de CBD balanceava esse efeito. 

Um coquetel mortal?
Embora os dados que suportem os efeitos nocivos da marijuana sejam fracos, alguns pesquisadores estão mais preocupados com a droga em conjunto com outras substâncias, como o tabaco, o álcool e a cocaína. Alguns estudos sugerem, por exemplo, que a maconha pode aumentar o desejo por outras drogas, levando, dessa forma, a má fama de droga como “porta e entrada”.  Um estudo publicado no início do mês de Janeiro apoiou essa hipótese ao mostrar que, pelo menos em ratos, a exposição ao THC aumenta os efeitos viciantes do tabaco. Além disso, a marijuana pode não ser compatível com outras drogas de prescrição médica, pois pode induzir o fígado a metabolizar medicamentos de forma mais lenta; portanto, aumentando o risco de toxicidade.
Apesar dessas preocupações, Lamarine sustenta - em virtude da quantidade de pesquisa focado nesse assunto -, ser pouco provável as consequências do uso maconha serem calamitosas. Arremata dizendo: “Nós não vamos acordar amanhã e nos depararmos com a grande descoberta que a maconha causa grandes danos ao encéfalo. Se assim fosse, já teríamos visto isso a essa altura”.

Autor: S
Tradução: Cicero Escobar