[Originalmente publicado no blog Bule Voador]
A busca por vida no universo é, talvez, um dos melhores exemplos da nossa humildade combinada com curiosidade. Afinal, alguém poderia perguntar: Por qual razão seres conscientes da sua própria existência dedicariam tempo e recurso na investigação de algo que não há garantias de sucesso?
A busca por vida no universo é, talvez, um dos melhores exemplos da nossa humildade combinada com curiosidade. Afinal, alguém poderia perguntar: Por qual razão seres conscientes da sua própria existência dedicariam tempo e recurso na investigação de algo que não há garantias de sucesso?
Algumas pessoas fixam-se excessivamente
com o compromisso do resultado, esquecendo ou menosprezando o progresso.
Ao longo dos anos — motivados pela paixão e atraídos pelo desconhecido
–, os cientistas trouxeram à tona informações preciosas do nosso local
no cosmos. Tomando os últimos 450 anos, qualquer um que se aventurar a
explorar os detalhes destas descobertas ficaria sem fôlego: Coisas que
hoje nos parecem banais eram frequentemente entendidas através de
especulações que transitavam entre o plausível e a superstição. Quem não
lembra da ideia defendia por exploradores de que no final do horizonte
do mar haveria uma queda rumo a morte? Não muito tempo atrás achava-se
que os canais em Marte teriam sido feitas por uma civilização
extraterrestre tecnológica com intuito de irrigar suas plantações. Há
três décadas atrás não haviam planetas descobertos que não fossem os do
próprio sistema solar. Nosso sistema, pensava-se, era único; não seria
concebível imaginar planetas fora da galáxia. Em pouco mais cem anos
atrás muitos sequer imaginavam que outras galáxias pudessem existir.
Todas essas questões — e suas respostas–, apareceram numa fração
diminuta do tempo desde que a vida surgiu na Terra. Colocando as coisas
em perspectivas, não deixa de ser espetacular que somos a primeira
espécie na Terra — algo como os últimos 15 segundos antes da meia-noite
do dia 31 e Dezembro do calendário cósmicos, onde 1° de Janeiro é o
nascimento do universo –, com a capacidade de satisfazer as inquietações
intelectuais que o próprio universo nos convida a serem perguntadas.
Somos uma parte do cosmos que tomou consciência e inteligência o
suficiente para perscrutar perguntas até então inéditas na história do
planeta.
Algumas dessas informações são úteis
para a humanidade toda, não apenas para saciar a curiosidade de mentes
inquietas. Foi com a exploração espacial que descobrimos um efeito
estufa descontrolado no nosso vizinho mais próximo (Vênus), e que serve
de aviso para nossa espécie reforçar os esforços que combatam a
degradação ambiental. O advento necessário de novos satélites e
telescópios trouxeram tecnologias maravilhosas para todos. Muito do
impulso tecnológico de miniaturização de câmeras dos celulares modernos
foi possível como uma espécie de coproduto da exploração realizada por
nossas agências espaciais. Não seria maravilhoso que mais e mais
tecnologia pudesse ser extraída para o nosso conforto que viesse desse
tipo de atividade? Muito melhor que a humanidade obtenha benefício das
suas ações criativas em detrimento das destrutivas. Guerras também geram
tecnologias. Não deixaremos de usá-las por isso; entretanto não deixa
de ser um pouco incômodo que há concorrentes produtores de tecnologias
defendendo valores mais plurais e producentes– e que estão fazendo o
trabalho de maneira mais humana.
O mistério é atualizado conforme as
dúvidas da atualidade são outras. E talvez sejam bobas para o estudante
do futuro: Há vida no nosso sistema solar? Qual a dificuldade do
aparecimento da vida em outros cantos do universo? O que está
acontecendo, nesse exato momento, naquela estrela misteriosa a 1500 anos
luz de distância da Terra? Uma vez ter identificado vida tecnológica,
seria possível algum diálogo? O recado é simples: Nenhuma pergunta é
idiota, e não fazê-las é precisamente algo que caracteriza a idiotice.
Muitas vezes, a superstição e o
dogmatismo insistem em substituir nossos métodos racionais de
investigação. Em doses moderadas, é possível conviver com a superstição,
mas não com o dogma. Se estivermos disposto a aceitar cegamente a
palavra da autoridade ou alguma mensagem revelada em detrimento da livre
investigação acompanha do escrutínio, não podemos garantir que nosso
futuro será o de preservação da humanidade. É por isso que uma das
razões que motiva a busca por vida extraterrestre é a possibilidade de
descobrir um pouco mais sobre nós mesmos.