terça-feira, 10 de dezembro de 2013

41 anos da missão Apollo 17 – e gênese do negacionismo ingênuo

[Texto publicado no blog da Liga Humanista Secular do Brasil -Bule Voador]


 Harrison Schmitt no solo lunar
O dia 11 de Dezembro é uma data de comemoração para a espécie humana. Há exatamente 41 anos, um dos programas mais ambiciosos de exploração já realizados começava a terminar. Foi o pouso na lua da Apollo 17. A sexta e última missão do projeto Apollo levou os três últimos astronautas ao nosso satélite natural, sendo a missão que mais tempo permaneceu na superfície do astro.

É verdade que o projeto Apollo estava inserido em um contexto político de corrida espacial, mas isso de maneira alguma diminui o mérito deste acontecimento que foi uma das maiores aventuras já realizadas. A mistura de curiosidade, política, ciência e tecnologia permitiu um dos maiores feitos da nossa espécie. Apesar disso, ainda hoje há pessoas incrédulas sobre a veracidade das viagens.

Rover utilizado na missão
Uma característica curiosa de uma parcela dos negacionistas é sua ingenuidade. Não raro encontramos alguns que mal sabem da existência de seis missões. Como se a quantidade de imagens que eles mesmos usam para tentar negar as idas à lua fosses apenas da missão de Julho de 1969. Nesse sentido, é interessante notar que poucos deles foquem a atenção nas outras cinco viagens – a tentativa do negaciocismo algumas vezes é tão ingênua e mal informada que parece ter pouco interesse em investigar honestamente suas proposições. Não é objetivo do presente texto rebater as mais comuns argumentações envolvendo a falsidade das viagens(1),  mas é curioso notar que a grande maioria dessas alegações são justamente os fenômenos físicos que se esperaria em um local com pouca gravidade constituído de chão lunar branco reflexivo (regolito), com relevo irregular e apenas uma fonte de luz (bandeira “tremendo”, as sombras, pegadas e a ausência de estrelas nas fotos são exemplos disso). Esse é o típico caso de uma boa aplicação do ditado popular “peixe morre pela boca”. Parece ser típico de movimentos conspiracionistas/negacionistas criarem um baluarte onde nenhuma argumentação racional tem vez.
Para entender o movimento que defende a fraude é necessário recordar pelo menos dois momentos chaves. Em 1974, o escritor William Kaysing lançava o livro intitulado “Nós nunca fomos à lua”. O livro é uma pequena obra na qual consolidou os principais argumentos que são utilizados até hoje pelos negacionistas.
A agenda conspiracionista ganhou novo impulso em 2001 com o documentário produzido pela Fox chamado “Teoria da conspiração: Nós pousamos na lua?”. Sem perder o ensejo, o pessoal da Fox decidiu que o programa seria narrado pelo ator Mitch Pileggi (famoso na época pela série Arquivo-X). Mas isso é irrelevante, pois o que realmente foi curioso é que a grande voz do documentário foi ninguém menos que William Kaysing. Depois de quase 30 anos o escritor continuava com sua rentável tese de que todo o programa de viagem à lua foi uma fraude em conjunto com a Área 51 (não poderia ser diferente!). Mais absurdo ainda, dizia que a NASA não tinha capacidade técnica de ir até a Lua, e que a pressão durante o período da guerra fria forçou os americanos a forjar toda a história da viagem. Várias mentiras e deturpações foram ditas no documentário (2), como no caso de tentativas patéticas de gerar um sentimento de aceitação do negacionismo ao dizerem que na época 20% dos americanos não acreditavam na ida à lua em 1969.

Apesar disso tudo, é verdade que não pisamos mais na lua há 41 anos. Ainda assim, sondas de pouso (não tripuladas) continuaram a ser enviadas ao solo lunar até meados da década de 70. Aliás, a negação das viagens à lua geralmente acontecem acompanhadas de desconhecimento histórico de programas espaciais paralelos. Por exemplo, apenas 7 anos após a primeira ida à lua a sonda Viking aterrissava em Marte. E se tudo correr bem haverá um novo pouso de uma sonda na lua ainda esse mês, dessa vez comandada pelos chineses.
Para aqueles dispostos a ver ou rever um pouco sobre o que acontecia há 41 anos atrás fica a dica do vídeo.

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(1)    Uma boa palestra que refuta quase todos os argumentos conspiracionistas pode ser encontrada aqui e um bom resumo escrito aqui. Escute também o áudio do programa Fronteiras da ciência da rádio da universidade da UFRGS.

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