quarta-feira, 10 de julho de 2024

Bjorn Lomborg e as críticas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

 Em setembro de 2023, um artigo da Nature destacou que estávamos no meio do caminho em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. O texto alerta contundente de que o mundo não está no caminho certo para alcançar nenhum dos 17 ODS até 2030. Se o progresso continuar no ritmo atual, prevê-se que até o final desta década haverá 575 milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza, 600 milhões enfrentando fome e 84 milhões de crianças e jovens fora da escola. A análise mostra que apenas 02 dos 36 alvos dos ODS estavam caminho certo até aquele momento, enquanto muitos outros mostram progresso limitado ou nenhum progresso, incluindo questões cruciais como pobreza, água potável segura e conservação dos ecossistemas.

ODS significa "Objetivos de Desenvolvimento Sustentável". São 17 objetivos interligados estabelecidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015, com a meta de serem atingidos até 2030. Eles fazem parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que visa abordar questões globais entendidas como urgentes, contemplando a erradicação da pobreza, a proteção do meio ambiente e a garantia de paz e prosperidade para todos. Visando alcançar cada um desses objetivos, existe, em média, 10 metas a ser atingida para cada ODS, totalizando 169 metas ao total. Isso pode pode parecer um número alto, e de fato é. E talvez isso explique, em parte, a preocupação expressada pelos autores da Nature.

Fonte: https://www.nature.com/articles/d41586-023-02808-x

É importante lembrar que os ODS sucedem outra iniciativa da ONU, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Os ODM foram criados pelo então Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, e um pequeno grupo de assessores, com pouca participação pública ou governamental. Annan e sua equipe trabalharam em colaboração com o Fundo Monetário Internacional, com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e com o Banco Mundial. O resultado foi um plano curto e eficaz: oito objetivos e 18 metas específicas, iniciando em 2000 e terminando em 2015. Apesar de mais enxutos que os atuais ODS, os ODM alcançaram relativo sucesso. Um exemplo notável de progresso foi a redução significativa na mortalidade infantil. Em 1990, quase 12 milhões de crianças com menos de cinco anos morriam anualmente. Em 2015, esse número caiu pela metade.

Bjørn Lomborg é um cientista político e professor dinamarquês renomado por seu trabalho em economia ambiental e sua abordagem distinta sobre questões de sustentabilidade e mudanças climáticas. Em 2004, ele fundou o think tank Copenhagen Consensus, com o objetivo de otimizar o uso de recursos globais por meio da avaliação e priorização de problemas e soluções, baseadas em análises econômicas de custo-benefício. O Copenhagen Consensus reúne especialistas para examinar diversos desafios globais, como saúde, nutrição, educação e meio ambiente, visando identificar quais investimentos podem gerar os maiores benefícios para a sociedade.

Na esteira do relativo sucesso dos ODM, parecia razoável defender uma nova rodada de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, desta vez mais ambiciosa. No entanto, como argumenta o dinamarquês Bjorn Lomborg, as "ODS prometem tudo para todo mundo ao mesmo tempo"; portanto, não é surpreendente que não estejam alcançando o sucesso esperado.

Uma das críticas do dinamarquês é que, ao lado de metas nobres e cruciais, há muitas outras que são consideravelmente menos prementes, como a promoção turismo sustentável, o aumento da produção de alimentos orgânicos e a garantia de espaços públicos verdes para pessoas com deficiência. Não há problema em querer promover tais políticas, mas colocar essas promessas no mesmo nível de metas mais urgentes é desconcertante em um mundo onde centenas de milhões de pessoas ainda passam fome, são acometidas por doenças infecciosas, têm péssimo acesso à educação e sofrem com falta de acesso à energia.

Outras metas prometem resultados positivos, mas sem fornecer um plano claro de como alcançá-los. Uma delas promete "emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas as mulheres e homens, incluindo jovens e pessoas com deficiência". No entanto, não é como se a maioria dos líderes políticos não estivesse ciente da importância de criar empregos. Se houvesse uma maneira simples e eficaz de cumprir essa meta, já teria sido implementada. Da mesma forma, os ODS insistem na necessidade de "promover sociedades pacíficas". A paz é desejável, mas sem alguma inovação política para torná-la mais viável, isso apenas reitera um desejo secular sem muita clareza em como seria possível alcançar. Outras metas são, muito provavelmente, irrealizáveis devido à sua enorme ambição. Alguém acredita que será possível alcançar a meta de "acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em todos os lugares" até 2030? Novamente, não é que muitas dessas metas não sejam nobres, mas as promessas de resolver todo e para todos ao mesmo é um projeto hercúleo com grandes chances de falha.

Por outro lado, algumas metas podem ser alcançadas, mas a um custo extremamente alto. Por exemplo, os ODS prometem "sistemas de proteção social para todos", o que essencialmente significa implementar um sistema básico de bem-estar em todos os países, incluindo provisões para deficiência e velhice. No entanto, segundo Lomborg, não se leva em conta que isso custaria muito mais de um trilhão de dólares por ano até 2030, mesmo excluindo os países ricos.

Algumas metas dos ODS são difíceis de entender. Por exemplo, uma das dez promessas de educação promete, ipsis litteris, "assegurar que todos os alunos adquiram os conhecimentos e habilidades necessários para promover o desenvolvimento sustentável, incluindo, entre outros, por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não-violência, cidadania global e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável". Entender exatamente o que isso significa, e como alcançar, parece dar margem a uma variada gama de interpretações. Mais difícil ainda seria como implementar.

Em seu livro "Best Things First" (2023), Lomborg argumenta que é essencial, e possível, priorizar as ações globais com base em análises de custo-benefício para garantir que os recursos limitados sejam utilizados de maneira eficiente. Ele propõe uma abordagem mais focada e pragmática, destacando que, ao concentrar os esforços nos problemas que podem ser resolvidos de forma mais eficaz e com maior impacto, é factível alcançar resultados significativamente melhores.  Um dos aspectos que mais incomoda Bjørn Lomborg é que todas essas 169 metas das ODS não são ideias sem custo.

Lomborg ecoa as críticas e as preocupações lançada por outros pesquisadores, como o editorial da Nature. Deixa explícito que se o mundo continuar com as tendências atuais — excluindo a estagnação anômala causada pela Covid-19 em 2020-21 — atingiremos a marca de 100% dos ODS apenas após 2078, quase meio século de atraso. Mais relevante na análise de Lomborg é a desigualdade no atraso no cumprimento das metas entre os países. Países de renda média-baixa estarão 'apenas' 38 anos atrasados, enquanto os países de baixa renda estarão quase um século atrasados. Já os países de alta renda estarão incrivelmente 150 anos atrasados.

Os 17 objetivos e o ano alcançado com base nas tendências de 2015-19 para países de renda média-baixa. “Nunca” significa que os indicadores estão se afastando do objetivo.

A 'metade mais pobre do mundo' se refere a países de baixa e média-baixa renda, categorizados pelo Banco Mundial como países onde cada pessoa, em média, ganha menos de US$ 1.085 por ano ou apenas cerca de US$ 3 por dia. Nos países de renda média-baixa, as pessoas ganham até quase US$ 12 por dia. Para comparação, a renda média diária na China é de US$ 33 e nos países de alta renda (ou mundo rico), é de US$ 132.

Segundo dados do livro, um investimento anual de aproximadamente US$ 35 bilhões pode resultar em mudanças significativas: salvando 4,2 milhões de vidas anualmente, melhorando a situação financeira da metade mais pobre do mundo em mais de um trilhão de dólares, quase eliminando a tuberculose e reduzindo em 1,5 milhão o número de mortes por doenças crônicas. Aumentando a produtividade agrícola, poderíamos evitar a fome para mais de cem milhões de pessoas e assegurar educação de qualidade para quase todas as crianças dos países mais pobres, potencialmente elevando sua renda coletiva em mais de US$ 600 bilhões por ano.

Eis o argumento centra do livro: Ao longo de um período de 7 anos (2023 a 2030), implementar as 12 principais soluções teria um custo anual de US$ 41 bilhões, enquanto que os benefícios totais (econômicos + sociais) alcançarão US$ 2,1 trilhões. Isso implica que cada dólar investido resultará em notáveis US$ 52 de retorno, ou seja, a relação benefício-custo é de 52.

É possível encontrar quase todo o livro na página do Copenhagen Consensus, juntamente com todas as referências que compõem todos os estudos das ideias contidas no livro: https://www.copenhagenconsensus.com/bestthingsfirst.

Gastar $35 bilhões pode parecer muito, então é útil colocar isso em contexto. Para os 4,1 bilhões de pessoas na metade mais pobre do mundo, esse valor representa um aumento de apenas $8,50 por ano por pessoa.  Além disso, os $35 bilhões são um custo modesto em comparação aos $211 bilhões que os governos ricos gastam anualmente em ajuda ao desenvolvimento.

À medida que o mundo se aproxima da marca de meio caminho para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a proposta é maximizar, em termos de custo-benefício, as melhores estratégias para alcançar esses compromissos das ODS. Para isso, um time de economistas pesquisadores que trabalhou com o think tank Copenhagen Consensus produziu 12 soluções principais a se focar, sendo elas: Tuberculose, educação, saúde materna e neonatal, pesquisa e desenvolvimento agrícola, malária, e-procurement (compras eletrônicas), nutrição, segurança na posse da terra, doenças crônicas, comércio, imunização infantil e migração qualificada

Portanto, essas ideias não são opostas necessariamente às ODS; na verdade, algumas são quase idênticas. No entanto, Lomborg critica a falta de foco e o excesso de promessas nas ODS, argumentando que muitos desses objetivos podem ser irrealistas e não priorizam os investimentos de maneira eficaz.

No livro, discute-se que, apesar de muitos objetivos dos ODS serem altamente desejáveis, alguns, como alcançar a paz mundial, carecem de caminhos eficazes para sua realização. O time de economistas que trabalhou com o think tank Copenhagen Consensus colaboraram para explorar maneiras eficientes de reduzir o risco de conflitos, mas descobriram que mesmo políticas dispendiosas têm eficácia limitada conhecida nesse sentido. A única política identificada como significativa foi o envio de forças de paz após a assinatura de tratados de paz, capaz de reduzir a probabilidade de regiões frágeis voltarem a conflitos, embora seus custos sejam consideráveis. A relação benefício-custo estimada foi de aproximadamente $5 por dólar investido, destacando-se como uma política benéfica, mas que não atende ao critério de custo-benefício de $15 estabelecido pelo livro. Enquanto várias políticas são consideradas medianas e algumas até contraproducentes, apenas uma dúzia se destaca por oferecer retornos fenomenais.

Apenas para ilustrar um exemplo discutido pelo autor, as ODS estabelecem metas ambiciosas para reduzir as taxas de mortalidade materna e neonatal até 2030. A meta inicial de saúde dos ODS visa reduzir a mortalidade materna global para 0,07%, um objetivo desafiador que requer uma queda significativa nas taxas de mortalidade, quase quatro vezes mais rápida do que durante os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). No entanto, os progressos até agora têm sido insuficientes, com a taxa de mortalidade materna estagnada desde 2015. Alcançar essa meta implicaria uma redução significativa no número de mortes maternas anuais, de aproximadamente 300.000 para menos de 100.000 até 2030, apesar dos nascimentos globais esperados permanecerem estáveis. Similarmente, a meta para a mortalidade neonatal, abaixo de 1,2% até 2030, é considerada desafiadora, com o progresso atual sugerindo que esse objetivo só será alcançado em 2060, resultando em uma redução anual mais modesta nas mortes neonatais do que o esperado.

Para identificar as políticas mais eficazes na redução das mortes maternas e neonatais, os pesquisadores utilizaram a ferramenta Lives Saved Tool. Esta ferramenta avalia o impacto de intervenções como o Cuidado Obstétrico e Neonatal de Emergência Básico e a expansão dos serviços de Planejamento Familiar em 55 países de baixa e média-baixa renda, os quais juntos respondem por 90% das mortes maternas e neonatais globais. O custeio dessas intervenções inclui despesas diretas do setor de saúde com medicamentos, suprimentos e pessoal médico, além dos custos indiretos suportados pelas mulheres, como transporte e perda de salários. Embora frequentemente negligenciados nos orçamentos, esses custos pessoais são componentes significativos dos custos das políticas. Os benefícios anuais combinados dessas intervenções são substanciais, totalizando US$ 322 bilhões. Em termos de retorno social, cada dólar gasto gerará benefícios no valor de $87. A maioria desses benefícios decorre da salvaguarda de vidas de recém-nascidos, cada uma contribuindo com o dobro de anos de vida em comparação às vidas maternas salvas.

Com relação ao tema das mudanças climáticas, o autor reconhece como uma preocupação global séria. No entanto, argumenta que as políticas climáticas atuais geralmente proporcionam retornos econômicos menores do que $15 para cada dólar investido. Ele destaca que medidas como a implementação de um imposto global eficiente sobre carbono, embora uma das soluções mais eficazes, produzem apenas cerca de $2 em benefícios para cada dólar gasto. Além disso, políticas mais ambiciosas, como alcançar emissões líquidas zero de carbono, enfrentam dificuldades para gerar benefícios econômicos que superem seus custos. Um dos principais desafios é intervalo de tempo necessário para que os benefícios das políticas climáticas sejam percebidos. Enquanto os custos são imediatos, os benefícios são graduais e podem levar séculos para se materializarem plenamente. Estudos mencionados indicam que os benefícios líquidos das políticas climáticas podem não superar seus custos antes de 2080, ou mesmo durante o próximo século. Portanto, o autor argumenta que é desafiador justificar investimentos significativos em políticas climáticas baseando-se apenas nos benefícios econômicos diretos, especialmente considerando a prioridade urgente de muitos problemas imediatos enfrentados pela metade mais pobre do mundo.

Ainda nesse tema, é válida uma observação curiosa final. Na preparação para decidir as metas globais que acabaram sendo chamadas de ODS, a ONU realizou uma pesquisa global sobre prioridades, coletando opiniões de quase 10 milhões de pessoas, fornecendo, dessa forma, uma ideia que tenta capturar diretamente as prioridades do mundo. A pesquisa pediu às pessoas que priorizassem 16 questões importantes, e os itens mais bem classificados foram muito claros: educação, saúde, empregos, fim da corrupção e nutrição. Apesar da tendência crescente pelo interesse midiático voltado ao aquecimento global e mortes envolvendo desastres naturais (contrariando algumas evidências, diga-se de passagem), [ce1] a opção "ação contra a mudança climática" ficou em 16º lugar entre as 16. A prioridade das pessoas foi em temas de educação, saúde e trabalho.  Se isso revela alguma coisa, é que as prioridades da população nem sempre são as mesmas dos intelectuais e/ou políticos. E, novamente, o que não é nada surpreendente.

Fonte: http://about.myworld2030.org/my-world-2015

sábado, 17 de julho de 2021

A metáfora das esteiras

 


Imagine a variedade de esteiras de uma academia. Diversas marcas, cada uma com níveis de velocidades distintos. Em condições normais, as pessoas escolhem as esteiras tendo em vista coisas variadas como aparência (quebrada ou nova), nível mínimo ou máximo de velocidade das esteiras, etc. De maneira geral, há uma certa flexibilidade nessas escolhas. O ativismo identitário tem nos colocado em uma situação estranha, pois força opções que não são espontâneas para as pessoas. Seria como chegar em uma academia com apenas uma esteira disponível (ou várias esteiras idênticas) que operam numa velocidade única, e cada dia de novo treino fica mais veloz. O modo de operação de vários desses movimentos é agir de forma autoritária tanto na escolha da esteira como na velocidade. Caso você não atualize suas crenças sobre determinado assunto na mesma velocidade que a esteira está rolando (aparentemente cada vez mais rápida), e que foi ditada verticalmente pelos ativistas da causa,  seus pés podem não acompanhar, e você irá tombar. Caso você exerça alguma liberdade, buscando outra esteira, mesmo com leves modificações da esteira que lhe é forçosamente ofertada, o ônus da escolha errada recai unicamente em você.

Exemplo real disso é a crença da "apropriação cultural". Conforme segue a crença dos identitários, uma mulher de pele branca não deve usar turbantes, pois isso violaria a sensibilidade de pessoas negras ao se sentirem ofendidas pelo uso inapropriado de pessoas que não tiveram ancestralidade africana (a essência identitária é óbvia ao tratar pessoas como grupos de cor de pele e não como indivíduos). Na visão dos identitários, você deve obrigatoriamente aceitar a esteira que te oferecem (ou seja, a crença em causa). Em um mundo de pluralidade de opiniões, qual seria o outro cenário possível? Alguém poderia rejeitar a crença dos identitários. Afinal, pessoas de cores diferentes não necessariamente têm culturas diferentes, o que parece fazer sentido no país como o Brasil. Além disso, a origem da peça nem é óbvio que seja de povos africanos (afinal, nada mais é que um tecido enrolado sobre a cabeça, e não seria surpresa que tivesse sido "inventado" mais de uma vez na história da humanidade). E mais, mesmo que seja plausível a origem da peça que é oferecida pelos ativistas, é possível acreditar, de forma razoável, que usar peças inventadas por outros povos ajuda, e não atrapalha, na convivência e celebração de diferentes povos (se assim não fosse, a vida cotidiana se tornaria impossível; um simples café, que não tem origem no Brasil, tornar-se-ia causa de "problematização"). Se essas crenças pudessem ser livremente oferecidas sem nenhuma punição de justiçamento social, revelariam uma sociedade inclusiva, plural e diversa. No entanto, a infelicidade é que a oferta de esteiras não está mais disponível. Como matéria de fato, alguns tentarão escolher a "esteira errada", mas não ficarão isentos da infame acusação de racismo.


A metáfora da velocidade da esteira é melhor vista na atual sigla LGBTQIA+. Boa parte das pessoas conseguem compreender as primeiras 4 letras. Essa compreensão parece ser consequência da velocidade de compreensão em que as pessoas estão dispostas a se dedicar ao assunto. Entretanto, o brasileiro médio (e suponho que quase toda a totalidade do globo terrestre) tem dificuldade de assimilar o que seriam as demais letras "QIA+".  O que fica bastante evidente é que a velocidade de atualização da sigla da diversidade sexual não é facilmente acompanhada pelo público externo ao ativismo. E dependendo da boa vontade dos identitários, alguém que emita opiniões divergentes está fadado a tombar das esteiras. Para polemizar pouco, eis um exemplo que uma pessoa com dificuldade de andar na velocidade imposta pela esteira poderia perguntar: Qual o grupo de pessoas estariam sendo excluídas se a letra "Q"  (significa "queer") fosse removida? Pois a palavra "queer" (ao contrário de gay) sequer faz muito sentido no cotidiano das pessoas. E continua o opinador do senso comum: Não seria de mais fácil aceitação que a sigla da diversidade fosse enxuta o suficiente para que pessoas que já têm suas vidas privadas bastante ocupadas com outras preocupações pudessem digerir as atualizações com maior facilidade? Pois é razoável se a velocidade da esteira está indo rápido demais com a atualização das novidades, a lentidão de muitas pessoas possa comprometer a causa em questão. O problema não é o convite de apresentação a novas esteiras coloridas para andar. A situação fica insustentável quando lhe é ofertado uma única maneira de pensamento, e se não acompanhar a velocidade das novas informações correrá o risco de acusações homofóbicas (ou seria "quuerfóbicas"?).

domingo, 14 de março de 2021

Os Eleitos e a Nova Religião Secular Antirracista

A “cultura do cancelamento” é mais do que apenas uma multidão (que na verdade é uma minoria barulhenta) tentando remover um twitter porque alguém feriu seus sentimentos em um comentário de poucos caracteres. Se fosse apenas isso estaria tudo bem. Coisa muito pior está acontecendo em nome da “justiça social”, e pessoas inocentes estão sendo perseguidas, humilhadas e demitidas. Na década de 90, quando nada disso aconteceria, o filme “O Demolidor” previa que pessoas cometiam o crime de “moralidade verbal” ao dizer alguma palavra proibida pelo Estado. Já na literatura, George Orwell (no livro "1984") foi muito mais enfático e profético quando alertava para os perigos da vigilância contra a expressão. 

 


Mais recentemente, o linguista norte-americano John McWhorter aceitou o desafio de falar com o grande público sobre esse fenômeno, tendo enfoque a questão questão racial. Atualmente está escrevendo seu novo livro ("THE ELECT: THE THREAT TO A PROGRESSIVE AMERICA FROM ANTI-BLACK ANTIRACISTS") e postando a cada duas semanas em seu site. Assim, a cada publicação ele pode ler comentários e atualizar seus capítulos de maneira colaborativa.

(John Mcwhorter)

                                                                 (John Mcwhorter)

O capítulo inicial é incrível e vale a pena ler para entender o que ele chama de nova religião secular emergente nos círculos progressistas. Nas palavras dele: "Todos esses casos ocorreram devido à influência de um estado de espírito que denominamos ponto de vista, mas que na verdade se tornou uma religião. Este é o antirracismo da Terceira Onda, mais frequentemente denominado "guerreiros da justiça social" ou "a multidão acordada" (n.doT.: "do inglês "woke mobe"). Pode-se dividir o antirracismo em três ondas, na mesma linha do feminismo. O antirracismo de primeira onda lutou contra a escravidão e legalizou a segregação. O antirracismo de segunda onda, nas décadas de 1970 e 1980, lutou contra as atitudes racistas e ensinou aos Estados Unidos que ser racista era uma falha. O antirracismo da Terceira Onda, tornando-se mainstream na década de 2010, ensina que porque o racismo está embutido na estrutura da sociedade, a “cumplicidade” dos brancos em viver dentro dele constitui o próprio racismo, enquanto para os negros, lutar contra o racismo que os rodeia é a totalidade de experiência e deve condicionar uma sensibilidade primorosa para com eles, incluindo a suspensão dos padrões de realização e conduta. Sob este paradigma, todos considerados insuficientemente cientes deste sentido de 'Existir Enquanto Branco' como culpabilidade eterna requer condenação amarga e ostracização, em um grau abstrato e obsessivo que deixa a maioria dos observadores trabalhando para dar um sentido real a isso, e faz as pessoas à esquerda e ao centro se perguntarem exatamente quando e por que eles começaram a ser classificados como retrógrados e deixam milhões de pessoas inocentes com medo de se perderem nos locais de uma zelosa marca de inquisição que parece pairar sobre quase qualquer declaração, ambição ou conquista na sociedade moderna."

 

 Para ilustrar com casos reais, alguns exemplos abaixo foram retirados do próprio livro em construção (outros são casos reais, não citados no livro, porém bastante recentes também): 

 

i) Em uma aula um professor ensinava linguagem chinesa para alunos de comunicação empresarial. A ideia é simples: Com a China cada vez mais influente nos mercados mundiais, conhecer algumas expressões podem ajudar a fechar bons negócios. Acontece que uma dessas expressões tem uma pronúncia que soa como a palavra proibida, a N-word como é conhecida. Veja que o professor emitiu a palavra com uma sonoridade que lembra a "N-word" em um momento que envolvia nenhum contexto racial. Mas alguns estudantes advogam que o contexto não importa mais. O resultado foi o diretor da unidade lançar um manifesto se desculpando pelo "racismo estrutural" e ainda dando uma suspensão ao professor.

 

 ii) Um jornalista do New York Times atuava desde 1976. Recentemente escreveu uma peça para o jornal relatando uma conversa de terceiros, onde os envolvidos, um deles uma menina de 12 anos, teria dito, já há muito tempo atrás, a palavra proibida em uma de suas falas. O jornalista escreveu que tinha perguntado qual o contexto da fala, pois em muitas músicas os próprios rappers usam a tal palavra. Por essa conversa ele foi demitido. 

 

iii) Após o caso envolvendo o assassinato George Floyd, a diretora de uma unidade de uma universidade americana se prenunciou dizendo: "Estou escrevendo para expressar minha preocupação e condenação dos recentes (e passados) atos de violência contra pessoas de cor. Os eventos recentes lembram uma história trágica de racismo e preconceito que continua a prosperar neste país. Eu me desespero por nosso futuro como nação se não nos levantarmos contra a violência. Vidas Negras Importam, mas também, A Vida de Todos Importam. Ninguém deve ter que viver com medo de ser alvo de sua aparência ou do que acredita.” Como fica evidente, a professora reconheceu que ainda existe um problema racial nos EUA. Mas cometeu o erro imperdoável de dizer que "todas as vidas importam". Assim, ela foi denunciada a seus superiores e rapidamente saiu do emprego, sem sequer ter permissão para se defender. 

 

iv) O Museu de Arte Moderna de São Francisco foi criticado por não se comprometer o suficiente com artistas não brancos. O presidente do museu concordou, mas acrescentou que o museu não iria interrompar de inserir na coleção artistas brancos porque isso constituiria "discriminação reversa". O que está por trás dessa expressao é simples e bem entendido pelo senco comum: pessoas não-brancas podem ser racistas; qualquer pessoa pode ter crenças que são racistas. Resultado: O presidente foi demitido? O mero uso desse termo ("discriminação reversa") foi suficiente para ele perder o emprego. 

 

v) O Departamento de Educação de Oregon recentemente encorajou os professores a se inscreverem para treinamento que incentiva a “etnomatemática”, uma tendência educacional que argumenta, entre outras coisas: i) "resposta certa" na matemática é um sintoma da supremacia branca; ii) "O conceito de matemática sendo puramente objetivo é inequivocamente falso, e ensiná-lo é ainda menos" iii) a "objetividade - descrita como 'a crença de que existe algo como ser objetivo ou neutro '- é da supremacia branca." 

 

vi) Pessoas negras devem deixar de escutar e estudar música clássica. 

 

vii) Um analista de dados em uma empresa de consultoria durante a privacidade de sua casa tuitou um estudo de um professor negro de ciências políticas da Ivy League, Omar Wasow, mostrando que, em comparação com os protestos da atualidade, os protestos contra o racismo durante anos 50 e 60 nos EUA (época das cruéis leis Jim Crow) eram mais prováveis de ser menos violentos e também menos provável de fazer os eleitores locais dessas cidades em votarem no partido republicano. Resultado: Seu chefe o chamou, o repreendeu e depois o demitiu.

domingo, 3 de janeiro de 2021

Melhores leituras de 2020

 O ano foi de isolamento. Isso ajudou tirar da prateleira livros ainda não lidos, bem como se manter informado em leituras novas sobre assuntos bastante atuais.

Selecionei aqui 05 livros que mais gostei de ler em 2020. Dou uma rápida explicação sobre eles. Todos são facilmente encontrados em versões físicas e/ou digitais (no meu caso através do Kindle). Não está em ordem de preferência. Acontece que os temas são tão diversos que cada um deles eu gostei por razões diferentes.
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                                                              # Agricultura: Fatos e Mitos #
 
Três autores (dois deles grandes nomes na área: Xico Graziano e Décio Luiz Gazzoni) trazem uma série de fatos e mitos sobre a agricultura brasileira. É um livro incrível porque consegue com sucesso satisfazer uma demanda reprimida de divulgação científica séria sobre esse assunto. Na verdade os assuntos, pois são vários: 
desmatamento, pesticidas, orgânicos, transgênicos, etc. 
 
* Lembra aquela crença que alimento orgânico é sempre e inequivocadamente melhor que o alimento convencional ? É mito.
* Lembra aquela crença que o plantio transgênico aumentou a produtividade de várias plantações e não tem risco à saúde humana? É verdade.
* Lembra aquela crença que em 2019 houve aumento de desmatamento na Amazônia Legal? É verdade, porém o maior pico de desmatamento registrado em uma série histórica ocorreu em 2004.
 
E por aí vai. Cada uma dessas está recheado de evidências e citações na literatura.
 
 
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# Irreversible Damage #
(ainda sem tradução)
 
Talvez uma das coisas exageradas do livro é o título, pois pode impedir o primeiro acesso ao livro justamente de pessoas que mais precisam dele. De todo modo, o conteúdo é ótimo porque abre uma discussão importante. A escritora fez um trabalho de investigação, mantendo a compaixão que o assunto merece. O livro foca em crianças (não em adultos), sobretudo em meninas pré-púberes. O assunto pode ser explosivo para a cabeça de algumas pessoas, mas merece atenção e discussão. Por essa razão vou me prolonga rum pouco mais nesse livro.
Segundo a tese dela, uma espécie de epidemia silenciosa está se espalhando entre as adolescentes. Após um extenso levantamento de dados, nos é apresentado a uma suposta epidemia em garotas que, subitamente, sem qualquer sinal prévio, passam a se identificar como transgênero. Embora certamente haja casos reais de crianças transgêneros em tenra idade, o que tem sido observado é que as adolescentes estão sendo induzidas a aceitar a “transição de gênero” a partir de uma premissa bastante difundida em países ricos (EUA, Canadá, Inglaterra e Suécia) baseada no "consentimento informado", a qual se baseia única e exclusivamente na afirmação das garotas. Consultas psicológicas para avaliar outras possíveis causas de seus transtornos (como depressão, ansiedade ou déficit de atenção) são desencorajadas com ameaças, inclusive médicos tendo clínicas fechadas. Nos círculos mais progressistas uma pequena centelha de dúvida na palavra da criança pode virar acusação de transfobia, inclusive com perda de emprego.
Classicamente, a incidência esperada de disforia de gênero é algo entre 0,005 a 0,014% entre meninos. Em meninas é ainda menor: Entre 0,002 a 0,003%. Trocando em miúdos: Se esses dados são precisos, isso significa uma incidência da disforia clássica de menos de 1 em 10.000 pessoas. No entanto, na última década, conforme o livro discute, a disforia de gênero na adolescência parece ter aumentado expressivamente. Só nos EUA a prevalência aumentou em mais de 1.000 por cento. Ou seja: em vez de um caso a cada mil pessoas, como era de se esperar, estimativas sugerem um aumento de um a cada cinquenta. No outro lado do mundo, na Suécia, entre os anos de 2008 e 2018 houve um aumento de 1.500% em diagnósticos de disforia de gênero entre meninas de 13-17 anos de idade. Coisa similar foi constatado na Inglaterra.
Isso tudo saltou os olhos de muitas autoridades, inclusive pais, e a razão disso é a escalada que ocorre após a menina se reconhecer como menino: primeiro, a troca de pronome; depois, o uso de bloqueadores de hormônios; na sequência, uso de testosterona; e, por fim, cirurgia de remoção de mamas e/ou faloplastia. Isso tudo tem acontecido (pelo menos até a ingestão de testosterona) em meninas com idade a partir de 12 ou 13 anos. Algo que me chamou a atenção: O perfil da grande maioria desses casos são de meninas de classe média/alta, brancas, de família com valores progressistas e com elevado acesso diário a redes sociais.
É bem sabido que a disforia de gênero (pelo menos a clássica disforia) acomete principalmente os meninos e mesmo assim não em taxas elevadas como as que se tem visto hoje. Em um artigo científico recente publicada na renovada revista PLOS ONE, uma pesquisadora chamou esse novo fenômeno de "disforia de gênero de início rápido" (rapid onset of gender dysphoria). A questão é: essa nova disforia é uma coisa real? Talvez, ninguém tem a resposta final ainda. Tem muita coisa explanatória.
 
Algumas leituras extras:
Reportagem sobre os caso na Suécia: https://www.theguardian.com/.../ssweden-teenage...
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# The end of Gender #
(ainda sem tradução)
 
Na esteira do livro anterior, este da neuroscientista e sexóloga Debra Soh é, de certa forma, mais abrangente. O tema não é menos espinhoso também. Mas é mais espinhoso para quem está contaminado com a cabeça no ativismo identitário, vive no twitter, tumblr e só lê Judith Butler e/ou Foucault. No mundo real, eis alguns fatos discutidos no livro:
- Só existem dois sexos na natureza humana;
- Em mais de 99% das pessoas o gênero sexual é idêntico ao seu sexo;
- Sexo biológico não é um espectro (quem acredita nisso confunde característica sexual primária com característica sexual secundária);
- Sexo biológico não é definido através dos cromossomos (XX ou XY);
- Sexo biológico é definido pelos gametas. Na espécie humana só tem dois tipos: esperma e óvulo. Não existe intermediário.
- Reconhecer o fato acima não impede reconhecer a dignidade de pessoas transexuais, pois, sim, existem pessoas que caem nessa classificação, e isso não está em contradição com as afirmações anteriores;
- Pessoas intersexo existem, são em número bastante minoritário, e ainda assim a existência dessas pessoas não entra em conflito com as afirmações acima;
- Pessoas com o gênero identificado como demigênero-fluido, bigênero neutrois, demigirl, aliagender, pangender, demiboy e mais uns outros 70 possíveis (cada mês a lista aumenta) é um fenômeno curioso, mas é, provavelmente, coisa de ativista com pouca curiosidade sobre o mundo.
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# Janelas para a Filosofia #
 
Livros de divulgação científica modernos, em português, e de qualidade, ainda é coisa escasso no Brasil. Este aqui, feito em colaboração com um professor da Universidade de Ouro Preto (aliás, o professor
Desidério Murcho
é uma figura que merece ser seguida nas redes) tenta suprimir essa escassez. A obra é acessível para quem nunca leu algo sobre filosofia, e ainda deixa um gosto de querer mais. Os ensaios discutem temas como valores éticos (subjetivos e objetivos), valores políticos, fundamentos da fé, fundamentos do conhecimento e fundamentos estéticos. Enfim, vários temas de filosofia são explorados aqui. E ainda consegue oferecer um texto que não busca fazer proselitismo em nenhum dos assuntos. Na medida do possível, apresenta sempre uma ou duas versões de pontos e contrapontos de uma posição.
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# Os cinco convites #
 
Descobri esse livro acidentalmente, durante um episódio do podcast do Sam Harris entrevistando o Frank Ostaseski. Frank foi fundador do Zen Hospice Project em San Francisco. Nesse lugar dedicou boa parte da vida explorando o cuidado compassivo em pacientes em estado terminal. Não foram poucas as vezes que eu deixar me levar na emoção dos casos contado pelo Frank. O fim da vida, da nossa ou de entes queridos, nos convida a receber a refletir sobre situações que poucas vezes nos deparamos. Seu livro nos oferece cinco convites para participar desse processo inevitável: Não espere; aceite tudo, não rejeite nada; traga tudo de si para a experiência; encontre um lugar de descanso no meio de tudo e cultive o não saber. Além de nos brindar com conselhos teóricos que valem a pena ser seguidos, nos incentiva a prática da meditação mindfulness. A leitura foi muito agradável.

Os melhores filmes que eu vi em 2020




Seguindo a tradição anual (2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019), divulgo aqui minha lista de todos os filmes vistos. Foram 130 filmes.  Tendo em vista a quase ausência de estreias de filmes em cinemas esse ano, não haverá a lista dos 10 melhores. Dentre os filmes mais recentes vistos, o grande destaque vai para "A casa que Jack Criou", do Lars Von Trier e "Outra rodada ", do Thomas Vinterberg. Não deixa de ser curioso que os expoentes do Dogma 95 retornam em 2020.Outro destaque é "Destacamento Bood", do Spike Lee.

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* péssimo
** regular
*** bom
**** ótimo
***** obra-prima

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Uncut Gems (Josh Safdie, Ben Safdie, 2019) ****
O Homem que Não Vendeu sua Alma (Fred Zinnemann, 1966) ****
A Palavra ( Carl Theodor Dreyer, 1955) *****
Adoráveis Mulheres (Greta Gerwig, 2019) ***
O Caso Richard Jewell (Clint Eastwood, 2020) ***
Democracia em Vertigem (Petra Costa, 2019) **
Não vai ter golpe (Alexandre Santos; Fred Rauh, 2020) **
O dentista ( Brian Yuzna, 1996) **
Green book (Peter Farrelly, 2018) ***
1917 (Sam Mendes, 2019) ***
Arquitetura da destruição (Peter Cohen, 1989) ****
O Joelho de Claire (Éric Rohmer, 1970) ****
Vejo você ontem (Stefon Bristol, 2019) **
What did Jack do? (David Lynch, 2020) ****
Princesa Mononoke (Hayao Miyazaki, 2017) ***
Renegando meu sange (Samuel Fuller, 1957) ***
Parasita (Bong Joon-ho, 2019) ***
La Jetéé (Chris Marker, 1962) ****
Haunt (Scott Beck e Bryan Woods, 2019) **
Os bad boys (Michael Bay, 1995) ***
Sombras do passado (David Hare, 1985) ***
Noites de lua cheia (Éric Rohmer, 1984) ***
Ludwig (Luchino Visconti, 1973) ****
Jojo rabbit (Taika Waititi, 2019) ***
The Green Slime (Kinji Fukasaku, 1968) *
Star Wars: Ascensão skywalker (JJ Abrams, 2019) **
Histórias assustadoras para contar no escuro (André Øvredal, 2019) *
O estranho (Orson Welles, 1946) ****
O Incrível Homem que Encolheu (Jack Arnold, 1957) ****
O poço (Galder Gaztelu-Urrutia, 2020) **
Rembrandt (Alexander Korda, 1936) ***
Luz de inverno (Ingmar Bergman, 1963) ****
Sete minutos depois da meia noite ( Juan Antonio Bayona, 2016) ***
Papai é do contra (David Lean, 1954) ***
Dúvida (Robert Siodmak, 1944) ***
Os amores de Henrique VIII (Alexander Korda, 1933) ***
A Vida e a Paixão de Jesus Cristo (Ferdinand Zecca, 1903) ***
Joan the Woman (Cecil B. DeMille, 1917) ***
Regeneration (Raoul Walsh, 1915) ***
Hellraiser (Clive Barker, 1987) ***
A Máscara do Demônio (Antonio Margheriti, 1964) ***
O Rei (David Michôd, 2019) ***
Coherence (James Ward Byrkit, 2013) **
O relatório (Scott Z. Burns, 2020) ***
Sergio (Greg Barker, 2020) ***
Dois Irmãos: Uma jordana fantástica ( Dan Scanlon, 2020) ***
Onde os fracos não têm vez (Ethan Coen, Joel Coen, 2007) ****
Apertem os cintos, o piloto sumiu (David Zucker, Jim Abrahams, Jerry Zucker, 1980) ****
Planeta dos Humanos (Jeff Gibbs, 2020) **
Eu sou a fúria (Chuck Russell, 2016) **
Chumbo Grosso (Edgar Wright, 2007) ***
Equilibrium (Kurt Wimmer, 2002) ***
Golpe de Risco (Stephen Fung, 2017) **
…E o Vento Levou (Victor Fleming, 1940) ***
Crime sem saída (Brian Kirk, 2019) ***
Um lindo dia na vizinhança (Marielle Heller, 2020) ***
FIRE (POZAR) (David Lynch, 2020) **
A vastidão da noite (Andrew Patterson, 2010) ***
O limite da traição (Tyler Perry, 2020) **
Disque M para matar ( Alfred Hitchcock, 1954) *****
One Child Nation (Nanfu Wang, Lynn Zhang, 2019) ***
A Batalha das Correntes (Alfonso Gomez-Rejon, 2019) ***
O conformista (Bernardo Bertolucci, 1969) ***
Três Estranhos Idênticos (Tim Wardle, 2018) ***
The Old Guard  (Gina Prince-Bythewood, 2020) ***
Sputnik (Egor Abramenko, 2020) ***
Destacamento Blood (Spike Lee, 2020) ***
Culpa (Gustav Möller, 2018) ***
Desejo de mater (Eli Roth, 2018) ***
Disforia (Lucas Cassales, 2020) **
A Misteriosa Morte de Pérola (Guto Parente e Ticiana Augusto Lima , 2014) ***
Tempo de caça (Yoon Sung-Hyun, 2020) ***
Nem Tudo é Verdade (Rogério Sganzerla, 1986) ***
A Linguagem de Orson Welles ((Rogério Sganzerla, 1990) ***
Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (Héctor Babenco) ****
O Signo do Caos (Rogério Sganzerla, 2005) ***
Documentário (Rogério Sganzerla, 1966) ***
Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade, 1969) ***
The General (Buster Keaton, 1926) *****
The Play House(Buster Keaton, 1921) ***
Terra em Transe (Glauber Rocha, 1967) ****
Alphaville (Jean Luc Godard, 1965) ***
Os Inconfidentes ( Joaquim Pedro de Andrade, 1972) ****
Power (Henry Joost e Ariel Schulman, 2020) **
O Cangaceiro (Lima Barreto, 1953) ****
Os pássaros (Alfred Hitchcock, 1963) ****
Invasores de corpos (Philip Kaufman, 1979) ***
Raízes de sangue (Idris Elba, 2018) ***
Invasores de corpos (Abel Ferrara, 1993) ***
Réquiem para um sonho (Darren Aronofsky, 2001) *****
Transtorno Explosivo (Nora Fingscheidt, 2019) ***
Palm Springs (Max Barbakow, 2020) ***
O dorminhoco ( Woody Allen, 1973) ***
Os suspeitos (Denis Villeneuve, 2013) *****
As branquelas (Keenen Ivory Wayans, 2004) ***
Debi & Loide - Dois Idiotas em Apuros (Peter Farrelly, 1994) ****
O Enigma do Horizonte (Paul W. S. Anderson, 1997) **
Lindinhas (Maïmouna Doucouré, 2020) **
365 dni (Barbara Białowąs, 2020) *
A festa de Babette (Gabriel Axel, 1987)
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Um contratempo (Oriol Paulo, 2016) **
Alice não mora mais aqui (Martin Scorsese, 1974) ***
O Diabo de Cada Dia (Antonio Campos, 2020) ***
A última sessão de cinema ( Peter Bogdanovich, 1971) ****
O lobo atrás da porta (Fernando Coimbra, 2013) *****
Belzebuth (Emilio Portes, 2019) ***
Milk: A Voz da Igualdade (Gus Van Sant, 2008) ****
Hillary`s America (Dinesh D'Souza, 2016) ***
Uncle Tom (Justin Malone, 2020) ****
2067 (Seth Larney, 2020) **
Nation's Pride ( Eli Roth, 2009) ***
Borat: Fita de Cinema Seguinte (Jason Woliner, 2020) **
Thelma (Joachim Trier, 2017) **
Kairo (Kiyoshi Kurosawa, 2001) ***
Bronx (Oliver Marchal, 2020) ***
Fúria Incontrolável (Derrick Borte, 2020) **
O gato que ruge (Jack Arnold, 1959) **
A casa que Jack Criou (Lars Von Trier, 2018) ****
Destruição Final: O Último Refúgio (Ric Roman Waugh, 2020) **
Natal Sangrento (Bob Clark, 1974) ****
Tenet (Christopher Nolan, 2020) ***
Psicopata americano (Mary Harron, 2000) ****
2067 (Seth Larney, 2020) **
Vozes (Ángel Gómez Hernández, 2020) ***
O que ficou para trás ( Remi Weekes, 2020) **
Arraste-me para o inferno (Sam Raimi, 2009 ***
O sol da meia noite (Scott Speer, 2018) ***
Outra rodada (Thomas Vinterberg, 2020) ****
Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (Eliza Hittman , 2020) ***
The painter and the thief (Benjamin Ree, 2020) ***