Originalmente publicado no blog Bule Voador
É
lastimável a opinião que considera opções profissionais como sendo uma
caixinha "para homens" e outras "para mulheres". E toda iniciativa que
tenha algum efeito real de minimizar isso é bem-vinda. É nesse contexto
que tem sido comum a consciência que há proporcionalmente menos mulheres
do que homens na ciência brasileira. Isso parece ser verdade. Só que
também parece ser verdade que nunca esteve tão fácil o acesso das
mulheres aos cursos de exatas.
A
tese levantada por muitos nem sempre reconhece isso, e vai além: Uma
das causas, talvez a principal, é devido a alguma coisa que é alimentada
pela cultura. Em alguma extensão tem sido popular a ideia que o sexismo
é um dos fatores predominantes que acabam desestimulando mulheres a
buscarem carreiras científicas. Embora eu conceda que isso possa ser um
dos fatores, eu disputo a ideia que seja o principal.
Há
hipóteses competitivas que podem dar conta de responder a discrepância.
Uma maneira de responder isso com mais objetividade seria fazer um
levantamento de quantas pessoas autodeclaradas mulheres entram em cursos
de exatas e após os semestres iniciais desistem ou trocam de curso.
Suponho que a troca voluntária de curso e/ou desistência seja mais
expressiva entre as mulheres em comparação ao público masculino.
Naturalmente isso afetaria a proporção numérica futura entre os sexos na
formação acadêmica nas áreas de pesquisa. Possivelmente isso seja
consequência mais de preferências biológicas e psicológicas distintas
entre os sexos do que coisas como patriarcado e opressão. Por exemplo --
na média da população--, as mulheres tendem a ser mais adversa ao
risco, preferem profissões menos competitivas e são emocionalmente mais
expressivas.
Há
evidências que apontam nesse sentido. Diferenças de personalidade entre
homens e mulheres são maiores e mais robustas nas sociedades
industriais mais prósperas e avançados como EUA, Canadá e França. Os
países com alta expectativa de vida, altos níveis de alfabetização,
educação e renda são susceptíveis de ter as maiores diferenças entre os
sexos na personalidade. Provavelmente porque a prosperidade e igualdade
trazem maiores oportunidades de autorrealização; assim, homens e
mulheres têm o poder de ser quem mais realmente são (*). Não parece por
acaso, portanto, que alguns dados apontam que há mais mulheres
engenheiras na Rússia e na China do que nos países com maior igualdade
de gênero. As mulheres americanas e europeias estão entre as pessoas
mais educadas, bem informadas, e autodenominadas em toda a história da
humanidade. E é plausível a defesa que na Rússia e China há mais
mulheres em áreas das exatas muito mais por imposição do que por escolha
livre (aí sim a tese do fator cultural parece ser preponderante).
A
Noruega, um dos países de maior IDH, continua mostrando tendência para
mulheres seguirem carreiras que envolvam mais contato com pessoas (por
exemplo, enfermeiras) e os homens carreiras mais solitárias (por
exemplo, cientistas) -- e isso vai ao encontro de que estas pessoas
encontram um terreno que facilita a manifestação de seus verdadeiros
interesses.
Outra
linha de evidência (**) sugere que mulheres ao redor do mundo, mesmo em
países onde os diferenciais sociopolíticos são grandes e há menor
igualdade para a mulher, estão ganhando de homens em ciência e
literatura. Em média, alguns dados mostram que os rapazes têm resultados
educacionais piores do que meninas ao redor do mundo, independente dos
indicadores socais de igualdade.
Portanto
não é óbvio que toda diferença por gostos e atividades é derivada da
cultura. Embora a cultura possa endossar papéis de gêneros parece que a
biologia e a psicologia também desempenham algum papel relevante nisso.
Acredito que uma boa sociedade é aquela definida com elevado nível de satisfação, e não tanto com preocupação insistente em paridade estatística. Se os estudos preliminares estão certos, a igualdade de oportunidades é mais relevante do que igualdade de resultados entre homens e mulheres. É uma questão de respeitar e acomodar as diferenças individuais.
Acredito que uma boa sociedade é aquela definida com elevado nível de satisfação, e não tanto com preocupação insistente em paridade estatística. Se os estudos preliminares estão certos, a igualdade de oportunidades é mais relevante do que igualdade de resultados entre homens e mulheres. É uma questão de respeitar e acomodar as diferenças individuais.
_______
Fontes(*) http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18712468
(**) https://www.sciencedaily.com/releases/2015/01/150126125015.htm
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