Um cenário de extraterrestres (não humanoides) em um ritual de droga recreativa. Fonte: http://www.alexries.com/Galpages/c-smoking.htm |
Nos últimos anos, o número de exoplanetas (planetas fora do sistema solar) descobertos têm aumentado progressivamente. Independente disso, o imaginário sobre a possibilidade de vida extraterrestre data de um tempo mais antigo do que a primeira descoberta de um exoplaneta no início da década de 90. Embora muitas alegações extraordinárias e implausíveis envolvam o tema, alguma coisa parece certa: até o momento não existe nenhum relato confiável
que demonstre algum contato extraterrestre. Assim, uma interessante
pergunta pode ser colocada: É provável a existência e eventual visita de
vida extraterrestre inteligente antropomórfica?
É verdade que a pergunta pode induzir um
mal entendido. Assim, resolvemos isso com a seguinte afirmação: Para
que uma visita de seres extraterrestres antropomórficos ocorra, é uma
condição necessária a existência dos mesmos. Dessa forma, no primeiro
momento, tentarei mostrar razões em defesa da improbabilidade da
existência, e, em seguida, faremos o seguinte exercício: mesmo
considerando que existam, é provável a visita?
Pensemos um pouco na nossa história: A
primeira explosão de vida animal na Terra ocorreu há aproximadamente 540
milhões de anos atrás — a chamada explosão cambriana. Desde então, pelo menos duas grandes extinções em massa
aconteceram por aqui: A extinção do Permiano-Triássico (251 milhões de
anos atrás), considerada a mais severa, levando a extinção de mais de
90% das espécies marinhas e 70% das espécies sobre continentes; e a mais
conhecida (embora não a mais severa) extinção de Cretáceo-Terciário (há
65 milhões de anos atrás), que vitimou, entres outros, os dinossauros.
Foi somente após esses dois eventos que
ocorreu a explosão de diversidade dos mamíferos placentários. Em outras
palavras, não parece ser absurdo alegar que a o aparecimento da espécie
humana se deu, muito provavelmente, devido (mas não apenas) a extinção
de outras espécies na qual a coexistência tornaria difícil a nossa
existência (dinossauros carnívoros gigantescos, por exemplo). Disso não
se segue que não existiam mamíferos antes da existência dos dinossauros,
o Castorocauda é
um exemplo. Por outro lado, considerando os seres antropomórficos, e
todo o tempo desde a formação do planeta, sua trajetória evolutiva foi
bem mais lenta. De fato, lembremos do célebre calendário cósmico
saganiano ao nos recordar que o aparecimento dos primeiros humanos só
teria ocorrido em algo em torno de 22:30 de 31 de Dezembro (nesse
calendário, o 1° de Janeiro marca o Big Bang). Somos muito recente no
cosmos, também diria Sagan.
O estado atual da biologia aponta: O planeta Terra possui 8,7 milhões de espécies, número do qual nós representamos apenas uma unidade nessa miríade de vida; a estimativa atual
do número de bactérias chega a 5 milhões de trilhões de trilhões (5
seguidos de 30 zeros). Além disso, registros fósseis apontam para a
existência de bactérias há pelo menos 3,6 bilhões de anos, sendo que a
célula eucariótica só deve ter surgido há cerca de 1,8 bilhões de anos
(a Terra tem idade de 4,5 bilhões de anos). Dizer que o planeta é das
bactérias não é uma metáfora tão exagerada.
Como comentado por PZ Myers,
diferentes soluções evolutivas podem ser encontradas para problemas
adaptativos; ou seja, não parece razoável esperar que adaptações
complexas e especializadas encontre caminhos evolutivos universais. Os
biólogos estão dispostos a admitir
que complexidade não é uma marcha unidirecional ao que é mais complexo
ou ao que é mais parecido ao ser humano. Em outras palavras, imaginar o
bipedalismo como aparência provável de seres extraterrestres
inteligentes parece um pouco da falta de bom senso frente a
originalidade e diversidade de exemplares dos organismos vivos.
Essas
foram algumas razões para objetar a tese da existência de organismos
antropomórficos no Universo. Que basicamente possuem o mesmo esqueleto
argumentativo: a improbabilidade desse tipo de morfologia tendo em vista
o modelo (número e formato) dos organismos na Terra. É verdade que essa
argumentação falha ao se basear nos organismos somente do planeta
Terra. Mas é uma limitação, por enquanto, justa, uma vez que não
conhecemos outros locais com vida. De qualquer forma, se recebermos
alguma visita de civilização extraterrestre, parece provável que não o
reconheceremos como seres cinzentos baixinhos, bípedes e com olhos
escuros.
Outras objeções
(algumas das quais englobam a questão da visita considerando que seres
antropomórficos existam) são possíveis: i) a não existência de
evidências de seres antropomórficos não-terráqueos (apesar do delírio
coletivo de alguns que sugerem a existência de abduções); ii) a história
evolutiva sugere a possibilidade de uma infinidade de morfologias
distintas; iii) a necessidade de pressupor alguma convergência cósmica
de seres antropomórficos não-terráqueos, algo bastante problemático
tendo em vista a possibilidade de caminhos evolutivos distintos em
condições atmosféricas diferentes, iv) mesmo que seres antropomórficos
existam em outros lugares no cosmos, não se segue disso que eles sejam
capazes de desenvolver tecnologia suficiente capaz de realizar viagens
interestelares e v) mesmo que seres antropomórficos inteligentes (do
ponto de vista tecnológico) existam em outros lugares no cosmos, é
necessário que o tempo de existência deles seja suficiente de não
extingui-los (por alguma extinção em massa natural ou artificial) antes
que desenvolvam tecnologia capaz de viagens cósmicas. Por fim, outra
objeção curiosa é a que segue: vi) mesmo que as condições de v) sejam
satisfeitas, esses seres devem saber da existência do planeta Terra –
uma dificuldade real tendo em vista a imensidão do universo.
Naturalmente, sobretudo iv), iv) e vi) pressupõem que esses seres detêm
vontade de investigar novos planetas – ou seja, que esse desejo não seja
algo intrínseco ao processo cognitivo humano somente (de fato, o desejo
de conhecer e explorar novos mundos nem é compartilhado por todos os
humanos – alguns são totalmente desinteressados por esses assuntos).
Sobre i), mais uma observação: A tese
que defende a existência de vida extraterrestre antropomórfica
suficientemente avançada – do ponto de vista tecnológico -, ao ponto de
ser capaz de realizar viagens interestelares, tem falhado em mostrar
qualquer evidência razoavelmente aceitável em favor suas proposições. Em
outras palavras, o paradoxo de Fermi ainda não foi resolvido. Aliás, a tese do Grande Filtro defende que há alguma(s) etapa(s)
durante o processo de evolução dos organismos que torne a vida
inteligente improvável ou, no caso de existir, tendenciosa a
auto-destruição.
Uma vez que esse assunto muitas vezes
causam mais paixão do que razão, de antemão prevejo acusações. Não estou
alegando que: i) a origem da vida (seja o lá o que venha a ser “vida”) é
um fenômeno raro no universo; ii) vida extraterrestre não existe; iii)
vida extraterrestre inteligente é muito improvável e iv) a emergência de
vida complexa multicelular é uma combinação improvável de eventos e
circunstâncias astrofísicas e geológicas (o que me afasta um pouco da
adesão da Hipótese da Terra Rara).
Considerando o estado atual sobre astrobiologia,
não parece exagero a seguinte afirmação: vida extraterrestre, não
necessariamente antropomórfica, detentora de curiosidade e tecnologia
suficiente para perscrutar novos planetas, se existem, são em número tão
baixos que nenhum contato físico parece provável em alguma escala
temporal menor do que o tempo que nos resta antes da morte de nossa
estrela. É uma visão pessimista, reconheço. Espero que essa tese esteja
errada.
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