sábado, 23 de junho de 2012

Eram as pirâmides dos astronautas?

[Texto publicado na Sociedade Racionalista]

Não raro alguém diz acreditar que algumas obras da humanidade são, talvez, não tão humanas como aparentam ser. Em outras palavras, muitos argumentam que elas só foram possíveis porque tivemos algum auxílio, total ou parcial, de companheiros não terráqueos. Talvez não exista melhor representante dessa ideia do que as pirâmides do Egito. Os proponentes muitas vezes defendem as mais diversas teorias conspiratórias envolvendo tecnologia extraterrestre. Entretanto, basta um pequeno zelo para com a história do povo egípcio para entender que é muito mais razoável crer na capacidade humana de criar arquiteturas de engenharia do que crer na hipótese de que a tecnologia necessária para tais construções não pertenciam a nós.
Um olhar inicial poderia ser desatento, pois, focado nas pirâmides de maior ostentação, não seria capaz de considerar o fato das construções serem construídas com acúmulos de conhecimentos arquitetônicos. Os egípcios, antes de empenhar seus esforços para estas grandiosidades, já tinham conhecimento prático de outras estruturas grandiosas, como pode ser constatado no caso das construções das barragens para proteger das inundações do Nilo. As enchentes eram um evento anual, e o efeito era devastador, sobretudo causando a escassez de alimentos.  Sob o comando de Menés ( ou Hor-Aha, cerca de 3000 a.C.), o qual se acredita que foi o responsável por unificar o alto e baixo Egito em um único reino, foi construída a primeira barragem na história, na cidade de Mênfis. Ao leste desta cidade, mais tarde foi construída outra barragem (cerca 2550 a.C.), que ainda hoje pode ser estudada, com o que sobrou dela, para entender como os egípcios aplicavam suas técnicas de construção. Alguns estudiosos apontam que esta barragem não segurou a força da inundação. O que evidencia que muito conhecimento arquitetônico da época ainda era dependente de tentativa e erro.
Considerando a importância dos faraós na cultura do Egito antigo (inclusive de caráter divino), as pirâmides começaram a ser construídas para acomodar o corpo do faraó após sua morte. No caso, estas seriam uma evolução arquitetônica de outras estruturas suntuosas (mastabas) que de praxe já eram construídas há séculos. Estima-se que foi construído um número de pirâmides superior a 100; entretanto, para atingir a elegância e perfeição das últimas pirâmides foram necessários 6 reinados de faraós, além de muitos desastres. Djozer foi o primeiro faraó a encomendar (aproximadamente 2667 a.C.) uma super estrutura de pedra. Vale ressaltar que um eventual sucesso na construção desta obra colocaria o reinado do Egito como um dos mais poderosos, bem como elevar a divindade do faraó. Esta estrutura, ao contrário das demais, seria construída não de tijolos, mas de pedras. Esta primeira mega estrutura era escalonada, com um aspecto de degraus. Além disso, foram construídas muralhas de calcário em volta, e o acabamento destas demonstra a insegurança, e até certo ponto amadorismo de engenharia, visto que elas eram acopladas a uma parede para dar apoio, evitando assim que tombassem. Não se sabia, na época, que se pode construir uma coluna que se mantenha em pé. Se os conspiracionistas que defendem a ideia que extraterrestres com mais tecnologia ajudaram os egípcios na construção de pirâmides considerassem isso, talvez fossem mais contidos em seus exageros. Parece contraditório que uma civilização extraterrestre seja capaz de viajar consideráveis anos-luz pelo espaço, certamente em naves da mais elevada tecnologia, e ainda se sentissem inseguros ao ponto de terem que construir elementos totalmente desnecessários na construção dessas obras.
                                                     Pirâmide de Djoser em Saqquara.
Mais tarde, no reinado de Snefru (cerca de 2500 a.C.), uma nova tentativas de construção ilustra que o aprendizado era contínuo, e não tinha nada de tecnologia que não fosse humana. A pirâmide de Meidum é tida como intermediária entre as do tipo escalonadas e as verdadeiras piramidais. Entretanto, aparentemente a obra sofreu um desmoronamento (embora não haja consenso se foi um projeto inacabado). Outro projeto, anos depois ainda no mesmo reinado, também resultou em desmoronamento que, segundo alguns estudiosos, sugerem como a causa por ter sido edificada em solo instável. Sendo assim, com tamanha tecnologia dos seres extraterrestres, como não seriam capazes de prever que o solo, naquele local, não seria o mais apropriado para aquela estrutura? Snefru, entretanto, não estava disposto a abandoar sua segunda tentativa, e o resultado é a conhecida pirâmide curva. Isso aponta mais para o esforço humano em conseguir atingir objetivos, mesmo depois de alguns fracassos, do que a hipótese de seres extraterrestres com elevada tecnologia nos ajudando nas construções. Além disso, se o objetivo final era atingir a pirâmide perfeita, é difícil encontrar argumentos que impediriam nossos amigos cósmicos de construírem logo de imediato as enormes estruturas desejadas, sem a necessidade que isso ocorresse à custa de um longo tempo e de desastres tão marcadamente humanos.

Pirâmide de Meidum (contruída no no reinado de Snefru).

                       Pirâmide Curva (outra pirâmide construída no reinado de Snefru).

Partindo da necessidade de construção de barragens no início do antigo Egito, o acúmulo de conhecimento de engenharia e arquitetura permitiu, finalmente, a construção da mais elegante e grandiosa estrutura do antigo Egito, a pirâmide de Quéops. Muito esforço, tentativas e erros que culminaram para o conhecimento desta técnica. Acredito que a hipótese extraterrestre é extremamente fraca, uma vez que carece de evidência para ser defensável. Em vista de várias outras explicações mais prováveis, da qual temos um conjunto de evidências sólidas, é possível sim creditar a construção destas estruturas ao esforço humano. Parece existir um fascínio pelo desconhecido, o que, muitas vezes, nos impele a fazer hipóteses extraordinárias com as coisas que, em um primeiro contato, não entendemos direito.
                                               A grande pirâmide de Quéops.
Margaret R. Bunson, Encyclopedia of Ancient Egypt – Revised Edition, 2002.

Construindo um império - Egito - History Channel: http://www.youtube.com/watch?v=TIcGn4VYYSA

















sexta-feira, 22 de junho de 2012

Deuses e números

         Afinal, de qual Deus estamos falando? Um estudo apresentado em um portal virtual mostra um impressionante número de quase 5000 nomes de deuses distintos, surgidos ao longo da história humana (1). Carl Sagan, em um capítulo do livro Variedades da experiência científica, colocou a questão da seguinte forma: se estamos discutindo a ideia de Deus e ficarmos restringido aos argumentos racionais, então é útil saber o que estamos querendo dizer quando falamos “Deus.” Para os romanos, os cristãos eram ateus. Eles não acreditavam nas entidades dos deuses do Olímpio. Nesse sentido, quando alguém diz que não crê em um Deus determinado, ele é ateu com relação a esta divindade. Qual o motivo, portanto, de um Deus em particular ser mais ou menos provável que os Deuses do Olímpio, ou qualquer outro dos 5000 catalogados?
          O ser humano sempre criou seus mitos e Deuses ao longo da história. O catálogo supracitado não deixa dúvidas disso. Ademais, dados mais ou menos atuais sugerem que o número de ateus no mundo não ultrapassa 3% da população mundial (2). Isto não seria, portanto, uma evidência de que algum Deus realmente exista? Em outras palavras, diante do número tão variado de Deuses, e da quantidade imensa de pessoas que neles acreditam, não estaria o ateu em um desafio para manter sua posição válida? Um questionamento deste tipo levaria a várias outros desdobramentos; porém, para manter o foco na questão numérica do argumento, vale, por enquanto, lembrar que quantidade não significa verdade. Se todas as pessoas no mundo acreditarem em Deus, isso não garante que ele exista de fato; de maneira similar, se todas as pessoas no planeta um dia se tornarem ateias, isso não significa que, de fato, que Deus nenhum exista.
       Acredito que uma das possíveis explicações da questão numérica possa estar relacionada diretamente com uma característica intrínseca do ser humano de ter curiosidade sobre as coisas. A origem e evolução das coisas. Em Dezembro de 2011 tive a oportunidade de estar presente em uma palestra de um grande pesquisador, cuja pesquisa tem o enfoque na origem da vida, Antônio Lazcano. O simpático cientista iniciou sua palestra lembrando o público de diversas personalidades que foram, talvez, os pioneiros mais importantes em diversas áreas de pesquisa. O sistema solar, com Kant e Laplace; a evolução das espécies, com Lamarck e Darwin; a relação de calor e trabalho (termodinâmica) com Carnot e Thomson; a população mundial, com Malthus; o sistema econômico, com Marx e Engels; a religião, com Renan*. Todas as ideias destes homens derivaram da curiosidade e da necessidade por respostas. Neste sentido, nada mais natural que nossos antepassados também se questionassem sobre a natureza ao seu redor. Sendo assim, considerando seus métodos limitados, o sobrenatural poderia ser a razão de qualquer fenômeno da natureza. Não por acaso que na lista dos 5000 Deuses é possível encontrar nomes relacionados com a chuva, vegetação, mar, animais e outros vários que lembram diretamente algum aspecto da natureza.
        Caso a existência de Deus por número de crentes fosse uma argumentação válida, uma exceção traria sérias objeções para a existência de uma divindade. Embora a maioria das culturas do planeta tenham seu(s) Deus(es) característicos, é sabido que existem casos que sequer existem mitos de criações. A tribo amazônica Pirarrã é um exemplo disso, e conforme discute o linguista Daniel Everett o povo da tribo sequer tem interesse pela figura de Jesus Cristo (3, 4). O cientista, antes crente, depois de uma tentativa frustrada de converter a tribo, se tornou ateu (5). 
         Considerando o elevado número de divindades da história humana e, sendo estes Deuses tão diferentes entre si, são improváveis que sejam os mesmos apenas com nomes e/ou atributos distintos. Nesse sentido, certamente a questão, não somente da quantidade numérica, mas da religião como manifestação humana, pode ser alvo de investigação sob a óptica evolutiva (6).
      Com isto exposto, é difícil coadunar a existência de uma comunidade, ou uma cultura inteira - que jamais teve a necessidade de postular a existência de um Deus -, com a moral, que é um dos aspectos centrais nas doutrinas de pelo menos das três maiores religiões monoteístas existentes. E ainda falando em números, não se configura uma exceção o fato de uma religião não ter a figura de Deus como componente principal, ou até mesmo não possuir este ente no seu sistema de crenças. O budismo, a sexta maior religião do mundo (7) é não-teísta (pelo menos no sentido cristão) e o jainismo, uma das religiões mais antigas da Índia, também possui a característica da ausência de Deus como criador. Seriam os integrantes destes povos automaticamente desprovidos de moral, e também automaticamente condenados ao fogo eterno? Esta é uma discussão bem mais complexa, que merece uma atenção extra, que pretendo abordar em um futuro breve.


[*Aqui deixei somente a referência do Lazcano, que certamente se limitou aos precursores da ciência moderna. Entretanto, sabe-se que estes assuntos foram alvos de investigação, muitas vezes, bem antes na história da humanidade. Por exemplo, Empédocles, aproximadamente 2460 anos antes de Charles Darwin, já havia sugerido a origem dos seres vivos por um processo de evolução a partir do caos sem a necessidade de nenhum dogma religioso.]
1. http://www.godfinder.org/






Em defesa da ciência e tecnologia: O porquê de investir em certas pesquisas.

[Texto publicado no blog da Liga Humanista Secular do Brasil - Bule Voador]

A ciência não é, seguramente, uma panacéia. Por outro lado, tão pouco é indiferente com as necessidades humanas. Entretanto, em algumas áreas de pesquisa, sobretudo aquelas com menor conseqüência prática em curto prazo, sofrem, seguidamente, críticas que concernem à necessidade real de investir tempo e dinheiro.
          Argumentos rasteiros do tipo “o que querem esses cientistas estudando Marte? Temos problemas muito piores como o câncer para serem estudados”, ou “eles estão querendo brincar de Deus, devemos impedir investimentos com essas pesquisas”, são comuns de serem encontrados. No primeiro caso, a sentença é notavelmente falaciosa ao ignorar que a pesquisa do câncer recebe atenção exaustiva por parte de pesquisadores. Também não ponderam que a ciência é um conjunto de varias áreas, e, sendo assim, um acadêmico com formação em astrofísica não tem habilidades práticas para estudar técnicas modernas de cura de doenças complexas, e vice-versa (no sentido da ciência formal: pesquisar, resolver problemas e publicar trabalhos. Isso não significa que ele não possa ser bem informado e ainda ter opiniões que possam ajudar outras áreas. Exemplo dessa incrível versatilidade foi Erwin Schrodinger, que, sendo físico teórico, formulou hipóteses que anos mais tarde ajudariam na descoberta da estrutura do DNA). Já os defensores da segunda afirmação desconhecem o mecanismo da metodologia científica, que, por definição, não se preocupa com a atuação divina.

Muitas vezes algumas pessoas atacam as pesquisas cientificas através do argumento financeiro. Não reconhecem, entretanto, que as verbas destinadas a esta atividade não são elevadas. O país que mais investe seu PIB em ciência é a Suécia, e o valor não chega a 4%. Menos de 25% dessa quantia é custeada pelo governo; o restante é financiado por empresas privadas (1). No Brasil a situação é ainda mais dramática; em 2010 o nosso país investiu menos de 1,2% de seu PIB em ciência e tecnologia (2).

 Uma interessante comparação pode ser feita com o investimento bélico. Por exemplo, na guerra do Iraque, os Estados Unidos tiveram um gasto mensal de mais de 11 bilhões de dólares (3); além disso, para conduzir a guerra, o mínimo estimado, em média, por mês, foi de 6 bilhões de dólares (4). O telescópio James Webb, sucessor do Hubble, foi estimado em 8,7 bilhões dólares (5). Em outras palavras, um mês de investimento em guerra é quase o suficiente para pagar um dos projetos científicos mais ambiciosos na história da astronomia. Sem entrar em mérito da agenda política dos governos, parece que a questão não é tanto o pouco dinheiro, mas sim como é realizada essa distribuição. O argumento, dito por muitos, que projetos como esse são um desperdício, uma vez que o mundo ainda tem severos problemas, como a fome, acaba perdendo forças. Nesse sentido, a guerra é um dos grandes agentes causadores da fome do planeta (6), e não o investimento em ciência e tecnologia. Ademais, atualmente o gasto global com despesas militares é 55 vezes maior que o gasto com as despesas dos programas espaciais de todos os países do mundo (7). Assim, nota-se que não estamos investindo quantias absurdas em desenvolvimento científico.

Outro conhecido argumento critica os investimentos elevados do programa espacial americano (NASA). Infelizmente, muitas vezes são expressos somente os números absolutos, que, aparentemente, podem parecer alto. Entretanto, o investimento em 2011 foi somente de 0,53% do orçamento do governo (8). Além disso, não somente a NASA, mas toda pesquisa da astronomia resulta em benefícios variados. Incentiva a curiosidade, o que fazer surgir novos talentos na área das ciências e tecnologia e emprega milhares de pessoas. Enganam-se aqueles que defendem a ideia de que isso não traz conseqüências práticas. Considerando somente os últimos meses, diversas matérias, relacionadas diretamente com a astronomia, têm aparecido: através de estudos de buracos negros, surgiu a possibilidade de um método mais seguro e mais efetivo de radioterapia com o uso de elétrons de baixa energia (cura do câncer) (9); uma biocápsula – feita de nanotubos de carbono – que pode diagnosticar e tratar imediatamente a pessoa (10); estudando uma das maiores tempestades solares dos últimos anos, somos capazes de planejar rotas de vôos mais seguras, uma vez que a tempestade pode gerar distúrbios em sistemas de comunicação na Terra (11).
             O estudo do cosmos nos mostra, humildemente, nossa posição não privilegiada no universo: revela ainda mais a urgência de cuidar de nosso "pálido ponto azul"; entre outras coisas, foi estudando Vênus que descobrimos que se não formos capazes de contornar o efeito estufa nosso planeta poderá ser extinto rapidamente.

              Não aproveitamos os benefícios somente da pesquisa derivado do mundo macro. Conhecer os mecanismos da física básica tem permitido, por exemplo, a criar pele artificial que fornecerá sensibilidade a uma geração futura de robôs. Isso graças ao efeito do tunelamento quântico, que, como hoje é bem sabido, é um dos fatores responsáveis pela fusão nuclear que ocorre no Sol (12). Similar a isso, em uma aplicação direta para os seres humanos, foi possível criar um material de pele artificial com sensibilidade semelhante à da pele humana a partir de nanofios semicondutores (13). Em outra recente fantástica novidade da escala nanométrica, pesquisadores desenvolveram nanorrobôs capazes de destruir células cancerígenas (14).

           Nos últimos anos, têm sido dada maior atenção pela busca por vida extraterrestre com enfoque nos microorganismos existentes na própria Terra, os chamados extremófilos. Aqui, as críticas também são intensas. Entretanto, as pesquisas dos organismos microscópios têm mostrado resultados notáveis, que vai além dos interesses dos astrobiólogos por possibilidade de vida extraterrestre. As enzimas obtidas a partir desses organismos extremófilos têm encontrado aplicações variadas, das quais se destacam: produção de detergentes, de biocatalisadores, de biosensores, na degradação de materiais poluentes e produção de antibióticos (15).

       Os campos de pesquisa nitidamente de ciência básica não são menos importantes. Os estudos da origem da vida, além de satisfazer a necessidade humana por buscar as respostas mais profundas sobre a nossa existência, também revelam a possibilidade de encontrar utilidade prática na pesquisa biomédica (16). Com a derrubada da biogênese, a humanidade pôde mudar seu estilo de vida. Começamos a se preocupar mais com a assepsia nos hospitais, limpeza dos alimentos, higiene, ter cuidado com roupas e tratamento de água. Em última instância, aumentou longevidade da humanidade. Até a indústria de enlatados certamente encontrou uma possibilidade de se tornar realidade por causa dessas pesquisas.

           Considerando o desejo por respostas, intrínseco ao ser humano, a atividade científica permite a possibilidade de responder, através de um escrutínio minucioso, algumas das perguntas mais fascinantes da nossa existência. Entretanto, poderíamos até mesmo desconsiderar esse fator, já que outras atividades humanas podem fazer algo semelhante às nossas necessidades de respostas. Todavia, o investimento na ciência é suficientemente justificado através das conseqüências práticas para a sociedade. A ciência, portanto, se mostra capaz de resolver problemas, advinda do conhecimento funcional, que é um dos fatores que caracteriza essa atividade humana (17).

Por fim, termino o post com um interessante pronunciamento do físico Stephen Hawking, realizado em comemoração aos 50 anos da NASA (18):

´´Ir para o espaço certamente não vai ser barato, mas exigirá só uma pequena proporção dos recursos mundiais. O orçamento da NASA permaneceu grosso modo constante em termos reais desde a época dos pousos da Apollo, mas decresceu de 0,3% do PIB dos Estados Unidos em 1970 para 0,12% hoje. Mesmo que aumentássemos vinte vezes o montante gasto em empreendimentos espaciais internacionalmente, isso seria apenas uma pequena fração do PIB mundial.
Haverá quem argumente que seria melhor gastarmos nosso dinheiro resolvendo os problemas deste planeta, como a mudança climática e a poluição, em vez de desperdiçá-lo em uma busca possivelmente infrutífera por um novo planeta. Não estou negando a importância de combater a mudança climática, mas podemos fazer isso e ainda poupar um quarto de 1% do PIB mundial para o espaço. Nosso futuro não vale um quarto de 1%?``

















(17)           http://bulevoador.com.br/2010/03/9251/






O porquê das evidências materiais - Um relato cético acerca do fenômeno OVNI

[Texto publicado no blog da Liga Humanista Secular do Brasil - Bule Voador]


 Alegações extraordinárias exigem evidências extraordináriasCarl Sagan
A natureza é fascinante em vários aspectos e, talvez, uma das suas mais belas imagens seja o céu, independente de lugar ou tempo. As grandes cidades, contudo, têm perdido a possibilidade de contemplação do céu noturno, sobretudo porque a iluminação tem se tornado um obstáculo para a observação. De qualquer forma, isso não impede de que os relatos de objetos voadores não identificados (OVNI) continuem existindo no cotidiano. Sim, OVNI existe; mas, assumindo uma atitude um pouco mais crítica, são estes fenômenos realmente extraterrestres? Antes de discorrer a respeito, é válido salientar que, neste caso, o fenômeno em discussão são as alegações duvidosas a respeito das evidências de visitas extraterrestres ou de veículos extraterrestres, e não eventos corriqueiros como queda de meteoritos ou semelhantes. Nesse sentido, é comum as pessoas dizerem, especialmente os crentes em visitas extraterrestres, que possuem razões convincentes para acreditarem. Em geral, se baseiam: 
             - Em testemunhos oculares de pessoas que afirmam terem supostamente vistos naves e/ou seres extraterrestres;
- Em testemunho de alguém que viu/tocou/manuseou documentos de origem confidencial, os quais relatam como verdadeiros a existência de discos voadores visitando os humanos;
- Em pessoas que viram/tocaram em materiais de origem extraterrestre;
- Nos relatos de terceiros que, aparentemente, são pessoas idôneas e, portanto, não teriam motivos para mentir;
Estes itens, mesmo que defendidos com paixão por alguns crentes, permitem que pensemos com cuidado acerca deles: os testemunhos originais podem ser enriquecidos, distorcidos e/ou contaminados por terceiros, especialmente por influência dos entrevistadores; com exceção das teorias conspiratórias, nenhum grande laboratório ou agência de pesquisa (NASA, agência espacial Européia) idônea validou qualquer artefato como sendo de produto de uma civilização extraterrestre; o fato de uma pessoa ser decente e sincera, e não ter nada a ganhar mentindo, não a torna imune ao erro de interpretação derivado de seus sentidos. Além disso, esses itens, pela maneira como são defendidos, acabam esbarrando em dificuldades de se tornarem alvo de investigação criteriosa; por exemplo, é difícil escrutinar detalhes de acontecimentos ocorrido no passado no sentido de verificar a idoneidade destes testemunhos, ou as ilusões e falhas de memórias inerentes.
            Onde estão os metais, pedaços de nave, qualquer simples papel (ou algo semelhante), ou o mais simples pedaço de material que seja atribuído de origem extraterrestre? Todas as pessoas que se dizem abduzidas ou que tiveram algum contato com eles não trazem nada além de relatos vagos, limitado somente ao que seus olhos parecem ter visto.
Por outro lado, é possível argumentar que tudo isso pode ser "verdade", e que, mesmo sem provas concretas, eles estão por aí (nos visitando e abudizindo). Então, a pergunta é relevante: o porquê da necessidade de evidências materiais?
Somos dependentes de nossa subjetividade, principalmente com relação a nossas crenças, e, neste caso, do que gostaríamos que fosse verdade. Um mesmo fato pode gerar as mais diversas interpretações, e, dessa forma, não chegaremos a um mínimo de consenso. Estaremos mais ainda vulneráveis a essa condição quando estamos diante de situações que, desejando respostas, temos apenas vagas impressões ou ausência de qualquer objeto físico que possamos caracterizar. Nesse sentido, a ciência lida com o palpável, àquilo que está disponível para ser objeto de investigação. É uma atitude conservadora, pois somente assim podemos chegar a uma conclusão que não esteja vinculada aos nossos desejos pessoais. Se uma pessoa acredita muito em um relato, é provável que seja verdade, mas, provavelmente, só para ela. É necessário um método que permita que uma alegação seja investigada, e o método científico permite isso. Assim, podemos minimizar ao máximo os erros que somos capazes de cometer devido as nossas subjetividades e - a despeito do método não estar imune a falhas - chegar a uma conclusão a partir daquilo que a natureza de fato nos mostra. Sendo assim, mesmo que extraterrestres nos visitando seja um fato, é impossível fazer investigação somente com relatos visuais, a partir de fotos ou de crenças pessoais. Quem sabe seja verdade, mas, considerando as ferramentas que temos, tais relatos estão está além da capacidade investigativa minuciosa.
Qualquer relato extraterrestre não submetido a um escrutínio não passará de uma crença pessoal, e nós, humanos, somos muito susceptíveis a elas. A falta de evidências materiais condena estes relatos a uma situação no qual não são passíveis de investigação científica. De modo algum isso equivale a negar peremptoriamente a existência deles. Nesse sentido, vale lembrar que foram realizados investigações do fenômeno OVNI. O projeto “Blue Book” [1] da força aérea Norte-Americana é um exemplo de que as supostas evidências já foram seriamente estudadas. Contudo, muitas dessas “evidências” não são conclusivas nem convincentes. Além disso, podem ser explicadas por hipóteses mais plausíveis, terrenas e, com boa atitude cética, seguindo a navalha de Occam [2] (diante da necessidade de razões explicativas para algo, não postule mais que o necessário)
Todos os relatos – de naves espaciais ou contatos físicos - são, na grande maioria, devido a equívocos, ao olho mal treinado/não acostumado, a informações confusas e/ou fora de contexto, a eventos naturais, a artefatos humanos, aos vídeos e/ou fotos forjados, ou a fatores psicológicos (sonhos, desejos e até devaneio e/ou histeria). Ou seja, nem mesmo, até o hoje, foi encontrado sequer um relato que fosse não explicado ou desafiado por profissionais.
Os casos dos objetos não identificados podem ter tido sua fama estabelecida sobretudo porque, na maioria dos casos, existem mistérios inerentes às suas histórias. O mistério, assim como o céu estrelado, sempre fascinou as pessoas.
 O fato é que há uma riqueza imensa a ser descoberta através da ciência; há muitos mistérios ainda em aberto. De fato, é nela que estão as grandes perguntas ainda não solucionadas, e, com esta ferramenta, podemos responder. E melhor: Tudo isso pode ser levado à cabo de forma mais razoável e compartilhado de uma maneira que certamente não será isenta de receber opiniões adversas - necessárias para o método científico – mas que forneça um caminho mais racional com o intento de encontrar respostas.
Dentro da nossa realidade palpável há muitos mais mistérios intrigantes e ainda não solucionados do que teorias conspiratórias, que, quando colocado ao lado das perguntas científicas, perdem o encantamento.
Talvez as pessoas mais entusiastas da possibilidade de vida extraterrestre são os astrônomos/astrofísicos profissionais.  Os olhos treinados e o que os astrônomos têm, bem como o melhor conhecimento dos “objetos do céu”, os protege da maioria dos erros das pessoas sem treinamento equivalente e facilmente iludidas. Os astrônomos amadores também podem fazer parte desta busca por evidências concretas [3].
Ninguém precisa ser cientista para investigar o fenômeno OVNI; de fato poucas pessoas são. De qualquer forma, uma possível evidência promissora deverá ser levada a um escrutínio que, inevitavelmente, não estará isento da metodologia científica. Todavia, durante as simples observações do céu noturno, uma atitude cética - independente do assunto - é sempre saudável.