sexta-feira, 22 de junho de 2012

O porquê das evidências materiais - Um relato cético acerca do fenômeno OVNI

[Texto publicado no blog da Liga Humanista Secular do Brasil - Bule Voador]


 Alegações extraordinárias exigem evidências extraordináriasCarl Sagan
A natureza é fascinante em vários aspectos e, talvez, uma das suas mais belas imagens seja o céu, independente de lugar ou tempo. As grandes cidades, contudo, têm perdido a possibilidade de contemplação do céu noturno, sobretudo porque a iluminação tem se tornado um obstáculo para a observação. De qualquer forma, isso não impede de que os relatos de objetos voadores não identificados (OVNI) continuem existindo no cotidiano. Sim, OVNI existe; mas, assumindo uma atitude um pouco mais crítica, são estes fenômenos realmente extraterrestres? Antes de discorrer a respeito, é válido salientar que, neste caso, o fenômeno em discussão são as alegações duvidosas a respeito das evidências de visitas extraterrestres ou de veículos extraterrestres, e não eventos corriqueiros como queda de meteoritos ou semelhantes. Nesse sentido, é comum as pessoas dizerem, especialmente os crentes em visitas extraterrestres, que possuem razões convincentes para acreditarem. Em geral, se baseiam: 
             - Em testemunhos oculares de pessoas que afirmam terem supostamente vistos naves e/ou seres extraterrestres;
- Em testemunho de alguém que viu/tocou/manuseou documentos de origem confidencial, os quais relatam como verdadeiros a existência de discos voadores visitando os humanos;
- Em pessoas que viram/tocaram em materiais de origem extraterrestre;
- Nos relatos de terceiros que, aparentemente, são pessoas idôneas e, portanto, não teriam motivos para mentir;
Estes itens, mesmo que defendidos com paixão por alguns crentes, permitem que pensemos com cuidado acerca deles: os testemunhos originais podem ser enriquecidos, distorcidos e/ou contaminados por terceiros, especialmente por influência dos entrevistadores; com exceção das teorias conspiratórias, nenhum grande laboratório ou agência de pesquisa (NASA, agência espacial Européia) idônea validou qualquer artefato como sendo de produto de uma civilização extraterrestre; o fato de uma pessoa ser decente e sincera, e não ter nada a ganhar mentindo, não a torna imune ao erro de interpretação derivado de seus sentidos. Além disso, esses itens, pela maneira como são defendidos, acabam esbarrando em dificuldades de se tornarem alvo de investigação criteriosa; por exemplo, é difícil escrutinar detalhes de acontecimentos ocorrido no passado no sentido de verificar a idoneidade destes testemunhos, ou as ilusões e falhas de memórias inerentes.
            Onde estão os metais, pedaços de nave, qualquer simples papel (ou algo semelhante), ou o mais simples pedaço de material que seja atribuído de origem extraterrestre? Todas as pessoas que se dizem abduzidas ou que tiveram algum contato com eles não trazem nada além de relatos vagos, limitado somente ao que seus olhos parecem ter visto.
Por outro lado, é possível argumentar que tudo isso pode ser "verdade", e que, mesmo sem provas concretas, eles estão por aí (nos visitando e abudizindo). Então, a pergunta é relevante: o porquê da necessidade de evidências materiais?
Somos dependentes de nossa subjetividade, principalmente com relação a nossas crenças, e, neste caso, do que gostaríamos que fosse verdade. Um mesmo fato pode gerar as mais diversas interpretações, e, dessa forma, não chegaremos a um mínimo de consenso. Estaremos mais ainda vulneráveis a essa condição quando estamos diante de situações que, desejando respostas, temos apenas vagas impressões ou ausência de qualquer objeto físico que possamos caracterizar. Nesse sentido, a ciência lida com o palpável, àquilo que está disponível para ser objeto de investigação. É uma atitude conservadora, pois somente assim podemos chegar a uma conclusão que não esteja vinculada aos nossos desejos pessoais. Se uma pessoa acredita muito em um relato, é provável que seja verdade, mas, provavelmente, só para ela. É necessário um método que permita que uma alegação seja investigada, e o método científico permite isso. Assim, podemos minimizar ao máximo os erros que somos capazes de cometer devido as nossas subjetividades e - a despeito do método não estar imune a falhas - chegar a uma conclusão a partir daquilo que a natureza de fato nos mostra. Sendo assim, mesmo que extraterrestres nos visitando seja um fato, é impossível fazer investigação somente com relatos visuais, a partir de fotos ou de crenças pessoais. Quem sabe seja verdade, mas, considerando as ferramentas que temos, tais relatos estão está além da capacidade investigativa minuciosa.
Qualquer relato extraterrestre não submetido a um escrutínio não passará de uma crença pessoal, e nós, humanos, somos muito susceptíveis a elas. A falta de evidências materiais condena estes relatos a uma situação no qual não são passíveis de investigação científica. De modo algum isso equivale a negar peremptoriamente a existência deles. Nesse sentido, vale lembrar que foram realizados investigações do fenômeno OVNI. O projeto “Blue Book” [1] da força aérea Norte-Americana é um exemplo de que as supostas evidências já foram seriamente estudadas. Contudo, muitas dessas “evidências” não são conclusivas nem convincentes. Além disso, podem ser explicadas por hipóteses mais plausíveis, terrenas e, com boa atitude cética, seguindo a navalha de Occam [2] (diante da necessidade de razões explicativas para algo, não postule mais que o necessário)
Todos os relatos – de naves espaciais ou contatos físicos - são, na grande maioria, devido a equívocos, ao olho mal treinado/não acostumado, a informações confusas e/ou fora de contexto, a eventos naturais, a artefatos humanos, aos vídeos e/ou fotos forjados, ou a fatores psicológicos (sonhos, desejos e até devaneio e/ou histeria). Ou seja, nem mesmo, até o hoje, foi encontrado sequer um relato que fosse não explicado ou desafiado por profissionais.
Os casos dos objetos não identificados podem ter tido sua fama estabelecida sobretudo porque, na maioria dos casos, existem mistérios inerentes às suas histórias. O mistério, assim como o céu estrelado, sempre fascinou as pessoas.
 O fato é que há uma riqueza imensa a ser descoberta através da ciência; há muitos mistérios ainda em aberto. De fato, é nela que estão as grandes perguntas ainda não solucionadas, e, com esta ferramenta, podemos responder. E melhor: Tudo isso pode ser levado à cabo de forma mais razoável e compartilhado de uma maneira que certamente não será isenta de receber opiniões adversas - necessárias para o método científico – mas que forneça um caminho mais racional com o intento de encontrar respostas.
Dentro da nossa realidade palpável há muitos mais mistérios intrigantes e ainda não solucionados do que teorias conspiratórias, que, quando colocado ao lado das perguntas científicas, perdem o encantamento.
Talvez as pessoas mais entusiastas da possibilidade de vida extraterrestre são os astrônomos/astrofísicos profissionais.  Os olhos treinados e o que os astrônomos têm, bem como o melhor conhecimento dos “objetos do céu”, os protege da maioria dos erros das pessoas sem treinamento equivalente e facilmente iludidas. Os astrônomos amadores também podem fazer parte desta busca por evidências concretas [3].
Ninguém precisa ser cientista para investigar o fenômeno OVNI; de fato poucas pessoas são. De qualquer forma, uma possível evidência promissora deverá ser levada a um escrutínio que, inevitavelmente, não estará isento da metodologia científica. Todavia, durante as simples observações do céu noturno, uma atitude cética - independente do assunto - é sempre saudável.  




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