terça-feira, 20 de agosto de 2019

Um equívoco (comum) sobre igualdade. O caso Neymar e Marta.

A fixação por "igualdade" já tem passado do limite do bom senso. Como já tem acontecido com vários outros mantras da lacração, o termo agora é utilizado com suficiente esticamento para perder de vista sua esfera de significado. Igualdade deveria ser um engajamento ético em prover iguais condições de acesso e oportunidades. Na acepção de muitos, a "igualdade" agora é vista como uma tentativa de engenharia social rumo a uma ideal de paridade numérica, e que enxerga discriminação em toda e qualquer eventual desproporção dos resultados. Dito isso, não é de se estranhar essa comoção por diferenças salariais entre homens e mulheres, sobretudo no futebol.
O que está em causa aqui é uma confusão entre igualdade de oportunidade e igualdade de resultados. Que todos os indivíduos devem ter acesso igualitário, garantidos por lei, a oportunidades que emergem espontaneamente em seus espíritos, sem que sejam discriminados por arbitrariedades contingentes (etinia, raça, sexo, etc.) é algo que qualquer ser humano deveria estar comprometido - aliás, é a motivação básica da cartilha dos Direitos Humanos. Disso não se segue, entretanto, que a igualdade material e/ou de resultados seja um imperativo moral. Duas razão em defesa disso são: i) Pessoas são diferentes, têm motivações distintas, logo terão aptidões diversas. Dito de outro modo, só teria sentido em se falar de igualdade de resultados se as pessoas tivessem interesse igualmente distribuídos tomando como variável principal as vontades individuais. Como a consequente não é verdadeira, a antecedente se desfaz perante a realidade; e ii) há um conflito óbvio entre igualdade de resultado e liberdade individual, ou seja, ao insistir demasiadamente na primeira é possível que se termine sem as duas (vide as insistências das experiências socialistas em criar um "novo homem", acabando por tentar igualar todo mundo, mas num nível de miséria e com pouca liberdade - a única exceção sempre foi aos intelectuais planificadores da economia e dos costumes, não por acaso membros efetivos do partido e/ou da corte autoritária/ditatorial).
 
Um fato basilar em economia é que não existe "o real valor" de uma profissão. O valor de um bem ou serviço é determinado por um complexo arranjo de fatores, tais como oferta, demanda; o que se faz impossível determinar objetivamente o valor de um serviço.

Não por acaso que jogadores de futebol e artistas ganham mais que professores. O que determina a remuneração no mercado não é se a profissão é bela, mas sim pelo valor subjetivo, ou seja, o quanto as pessoas estão dispostas a pagar. Além disso, há a questão do alcance. Um professor universitário, muito embora desempenhe uma profissão de mérito socialmente reconhecida, tem alcance muito menor em comparação a um artista ou jogador de futebol. Faça as estimativas: Um professor deve contribuir, em média, para a formação de 200 alunos ao ano; por outro lado, milhões de pessoas consomem voluntariamente os serviços de jogadores e artistas. Se não gerassem valor, seria simplesmente impossível terem esses salários.

Muita gente está assombrada pela diferença salarial de Neymar e Marta. Primeiro, é necessário dizer que o salário da jogadora já é bastante alto comparado a média de outras profissões de baixo alcance. Somado com os patrocínios, estima-se um salário anual acima de 1 milhão de reais, o que é maior do que muitos jogadores homens. Muito disso ocorre pelas razões apontadas acima. Segundo, é verdade que Neymar ganha mais, mas não é necessariamente verdade que isso se deva apenas ao preconceito de gênero. E é muito menos plausível que esse fetiche por "equiparação salarial" faça sentido econômico.

Agora, se alguém está genuinamente preocupado com isso pode fazer duas coisas: i) Ajude o salário do Neymar diminuir, deixando de acompanhar seus jogos. Enquanto você dá audiência, a emissora cobra mais dos patrocinadores e ganha mais dinheiro. Assim, os produtos relacionados valorizam, bem como aumentam as vendas de ingressos. ii) Acompanhe com mais frequência o futebol feminino e compre seus produtos derivados (exemplo, camisas da jogadora). Fazendo isso, pelas mesmas razões descritas em i), os salários médios das jogadoras devem naturalmente aumentar.

O que você não pode fazer é pensar que todas as pessoas vão começar a se interessar por futebol feminino só porque elas têm um suposto dever de dar mais empatia para a causa. É sempre bom lembrar que as pessoas são livres para gostarem e investirem seu tempo no que quiser. De fato, ninguém está impedido de acompanhar mais o futebol feminino, se assim desejar. De minha parte, eu não curto nem o futebol masculino nem o feminino, e confesso que acho o segundo ainda mais chato que o primeiro.

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