2001 - Uma odisseia no espaço (Kubrick, 1968) |
"A meta da ficção científica é lançar uma nova lente sobre a
realidade e chegar um pouco mais perto do significado de sermos humanos. Às
vezes, com a ficção científica, você se aproxima mais da verdade do que se
tivesse seguido todas as regras." Brit Marling
Star Trek |
Não é de se estranhar que para
fazer sucesso de público os filmes têm fugido desses conceitos e abordado temas
mais inteligíveis para o público em geral. Isso ocorre porque infelizmente quem
faz um filme é um estúdio que quer ganhar dinheiro, e para isso precisa de
público. E o público em geral realmente não gosta de ficção-científica.
Stars Wars - O império contra-ataca (Kershner, 1980) |
Até mesmo os clássicos da
ficção-científica têm se reinventado. Os dois últimos filmes de Star Trek
fugiram um pouco da ciência e foram grandes sucessos de público. A ciência
ainda está lá, mas parece ter perdido espaço, voltando um pouco para as origens
da Série Clássica. A Série Clássica não era de grande acurácia científica, mas
essa não era a proposta principal. Era uma série a frente de seu tempo que
tratava de temas da sociedade da época sob a camuflagem das viagens espaciais,
usando a ciência para contar as histórias, mas focando nos indivíduos. As
outras séries da franquia mantiveram a mesma linha, mas trouxeram um
compromisso com o conteúdo científico um pouco mais acentuado.
Solaris (vesrão de Tarkosky, 1972) |
Os maiores clássicos da
ficção-científica nunca foram sucessos de público: “2001, A Space Odyssey” (sci-fi
hard), “Star Trek” (sci-fi soft) (todas as séries), “Blade Runner” (sci-fi
hard), “Solaris” (sci-fi hard). Em compensação, filmes de fantasia que usam
alguns temas da ficção-científica, como “Star Wars” e “Independence Day”, fazem
sucesso estrondoso, pois são simplesmente experiências visuais que agradam ao
público em geral. De fato, isso é uma atitude recorrente: as pessoas acham que
só porque inclui espaço e alienígenas um filme é de ficção-científica. Não só
isso não é verdade como um filme não precisa de espaço e alienígenas para ser
ficção-científica. A ficção-científica lida principalmente com o impacto da
ciência, tanto verdadeira como imaginada, sobre a sociedade ou os indivíduos.
Blade Runner (Scott, 1982) |
Embora não exista um consenso
sobre a definição de ficção científica, John Clute e Peter Nicholls na “The
Encyclopedia of Science Fiction” [2] encontramos o seguinte: “um gênero literário
cuja condições necessárias e suficientes são a presença e interação de
elementos de estranheza e de racionalização científica cujo principal
dispositivo formal é um referencial imaginativo alternativo ao ambiente
empírico que o leitor vive.” Também é importante lembrar a distinção de
fantasia. Nesse sentido, encontramos eco nas palavras um tanto poética de Rod
Serling, quando diz que “Fantasia é o impossível feito provável, e ficção
científica é o improvável feito possível”. Portanto, salvo as devidas
comparações entre literatura e cinema, percebemos que o gênero é muito mais do
que apenas um filme no qual comece com “A muito tempo atrás, em uma galáxia
muito distante...”
Filhos da esperança (Cuarón, 2006) |
Talvez seja nas obras
independentes e/ou de menores recursos que o gênero esteja mantendo qualidade.
E nesse contexto, alguns exemplos recentes podem ser citados, como “Europa
Report”, “Primer”, “Lunar”, “Filhos da Esperança” e “Loop”. Certamente tais
exemplares não são a panaceia salvacionista do gênero, tampouco representam por
completo o gosto heterogêneo dos fãs -, mas certamente abrandam um pouco a
decadência intelectual no qual amiúdes estamos expostos.
Como representantes
consumidores da ficção deixamos nosso humilde manifesto de descontentamento
frente a contínua queda de qualidade do gênero nas telas. Também evidenciamos
que não somos opositores do gênero fantasia. Por outro lado, percebemos a
contínua perda de espaço qualitativo e quantitativo da ficção científica em
detrimento da diversão fácil. E enquanto no papel de entusiastas estaremos
exigindo maior zelo com este gênero que já ofereceu imensas colaborações artísticas
e, sem dúvidas, detentor de um potencial (filosófico e artístico)
incomensurável.
and all those moments will be lost in time...like tears in rain
(E todos estes momentos se perderão no tempo... como lágrimas na chuva)
[Derradeira frase final do personagem Roy Batty (Rutger Hauer), no filme Blade Runner]
Autores:
Alexandre Godoy Graeff
Cesar Pinheiro
Cicero Escobar
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Referências:
[1] http://www.thewrap.com/tv/article/tca-sleepy-hollowstar-trek-producer-roberto-orci-fantasy-displacing-sci-fi-107656[2] TheEncyclopedia of Science Fiction - J. Clute; P. Nicholls
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