[Texto publicado no Universo Racionalista]
Entrando no clima
(Pouso da Curiosity em Marte) |
A análise baseou-se na coleta de vários pontos
experimentais durante 105 sóis marcianos (1 sol é equivalente a um dia de
Marte) na cratera Gale. Segundo os dados recentes, a composição volumétrica de gases em marte é
predominantemente de dióxido de carbono (CO2), atingindo 96%. O
restante é basicamente argônio (1,93%) e nitrogênio (1,89 %); o oxigênio está
presente em menos de 0,15% da composição atmosférica.
Revisitando
o passado
(Curiosity) |
(Herschel) |
Perdendo
atmosfera
(Cavidade gerada após o serviço de um dos braços robóticos da Curiosity) |
A hipótese da perda de atmosfera também tem sido
confirmada através da observação que uma quantidade significativa de carbono
tem sido ejetada da atmosfera ao longo do tempo, resultando em uma perda
preferencial do isótopo de carbono mais leve (13C).
Sonhos
molhados
A razão isotópica entre dois isótopos do hidrogênio,
nesse caso o prótio e o deutério (P/D), permite aos cientistas inferirem sobre
a origem e história planetária. A razão disso está baseada na diferença de
estados energéticos do estado fundamental da água deuterada e da água construída
apenas de prótio. Estudos realizados através de análises dos meteoritos
marcianos ALH84001 (datado de aproximadamente 4 bilhões de anos - existe um debate polêmico deveras interessante que é obrigatório para @s astro-simpatizantes conhecerem: aqui, aqui e aqui) e o Shergotty
(datado de um período aproximadamente 25 vezes mais tarde que o ALH84001, ou
seja, de uma época mais recente) mostraram valores de P/D equivalente a 3000
para o primeiro e 4600 para o segundo. Esse resultado tem sido interpretado
como uma evidência de dois estágios de perda de água para o espaço ao longo do
tempo no planeta vermelho. Antes do pouso da Curiosity, não haviam sido
realizados experimentos in situ no
sentido de calcular as espécies isotópicas presentes na água. Nesse sentido, um
dos grandes méritos da sonda curiosity é sua capacidade de inferir os isótopos
de oxigênio no CO2 e H2O, e, dessa forma, fornecer pistas
das complexas interações entre os reservatórios de O na hidrosfera, litosfera e
atmosfera de Marte.
Os resultados recentes obtidos pela Curiosity, sobretudo
a partir dos valores da relação entre os isótopos de hidrogênio e a presença do
18O, confirmam a hipótese de que reservatórios de CO2 e H2O foram
amplamente distribuídos aproximadamente 4 bilhões de anos atrás, mas a perda de
atmosfera ainda pode estar acontecendo. Ainda segundo os autores:
"Nós observamos grandes
enriquecimentos do isótopo pesado de Oxigênio (18O) no vapor de água
atmosférica e no CO2. Os valores de 18O observados no
vapor de água são muito maiores do que aqueles observados em carbonatos e
sulfatos dos meteoritos marcianos, o que sugere que o oxigênio presente no
vapor de água não está em equilíbrio com a crosta, a qual poderia ter sido
enriquecida em isótopos pesados através da perda da atmosférica. Outra
possibilidade é de que estes isótopos pesados de 18O (aferidos no CO2)
têm sido transferidos para o vapor de água através de reações fotoquímicas na
atmosfera. No entanto, os valores de 18O no CO2 na
atmosfera Terrestre são igualmente levados devido a baixa temperatura de equilíbrio entre o CO2,
e este processo pode também estar acontecendo em Marte."
Outra possibilidade que
poderia impactar nos valores da composição isotópica são as eventuais emissões
de gases vulcânicos e o intemperismo ao longo do passado de Marte. Entretanto,
as estimativas realizadas não são consensuais, embora esses dois fenômenos possam
ter afetado significativamente a evolução química de Marte.
Depois
da chuva
(MAVEN) |
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Referências
Chris R. Webster et al. (2013). Isotope Ratios of H, C, and O in CO2 and H2O of the Martian atmosphere Science DOI: 10.1126/science.1237961
Mahaffy et al. (2013). Abundance and Isotopic Composition of Gases in the Martian Atmosphere from the Curiosity Rover Science DOI: 10.1126/science.1237966
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Mahaffy et al. (2013). Abundance and Isotopic Composition of Gases in the Martian Atmosphere from the Curiosity Rover Science DOI: 10.1126/science.1237966
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Isótopos são variantes de um elemento químico
qualquer. O que diferencia um isótopo de outro é o número de nêutrons
(localizado no núcleo do átomo). Por exemplo, o hidrogênio possui três
isótopos: prótio, detério e trítio. Em todos eles o número de prótons (também
localizado no núcleo do átomo) é o mesmo, enquanto que o prótio não possui
nêutrons e o trítio possui dois nêutrons. Em alguns casos especiais são feitas
atribuições nominais, como no caso do átomo de hidrogênio – ilustrado na figura
abaixo.
(Isótopos do átomo de hidrogênio. Fonte: Wikipedia)
O mesmo raciocínio vale para qualquer outro átomo. Uma vez
que o nêutron está localizado no núcleo, quando esse número cresce em um átomo
seu peso atômico também cresce.
Portanto, no caso da razão 40Ar/36Ar,
a diferença é que o Argônio 40 tem 4 nêutrons a mais do que o Argônio 36;
assim, diz-se que o primeiro é mais
pesado que o segundo. Essa é a mesma razão do termo “água pesada”, que, na
verdade, é constituída por deutério. Sua fórmula molecular é igualmente H2O,
diferenciando-se pelo fato que é composto por deutério ao invés do prótio.
Alguns isótopos de átomos são radioativos, como no caso de césio 137.